Na presente modernidade, o tempo dedicado estritamente para atividades de lazer tornaram-se mais curtos se comparados com a forma em que o lazer era encarado antigamente, nas idades mais remotas da história. Atualmente, no entanto, a rotina corriqueira impede em grande parte que os indivíduos tenham acesso aos meios lúdicos de lazer, ou, até mesmo um prazo para se desconectarem das atividades cotidianas, dada a gama de tarefas que englobam suas vidas fora do ambiente de trabalho e da vida profissional. Toda esta aceleração progeressiva da humanidade se deu devido à fase inicial do capitalismo, onde o lazer passa a ser regulado através de parâmetros específicos como a faixa etária e até mesmo sexo, trazendo a obrigatoriedade de seguimento de uma rotina rígida; a partir disso o relógio deixou de ser uma maravilhosa invenção medidora de tempo para se tornar um artefato controlador, onde a responsabilidade com o tempo foi imposta a quase todos. Com toda essa rotina baseada em parâmetros, a sociedade foi modelada e, desta forma se estabeleceu dando origem ao conceito de lazer que temos notícia nos dias atuais. Contudo nota-se uma divisão desigual e covarde que tem as classes sociais como campo de atuação. Os chamados detentores dos meios de produção, como por exemplo, a burguesia, são cidadãos integrantes de uma pequena massa com privilégios em relação ao lazer sobre aqueles que vendem sua força de trabalho intitulados a grande massa operária.
Yuval Noah, em seu Best Seller Sapiens, afirma que a evolução humana ocorreu em certo aspecto e dentre outros fatores, em função da sensação de prazer intenso adquirida através das relações sexuais, o que fazia com que os machos tivessem interesse em acasalar com as suas fêmeas e, por consequência, dar prosseguimento à espécie; o autor argumenta ainda sobre o fato da natureza ter cuidado de tornar tais sensações efêmeras e inconsecutivas nos machos, já que se o prazer fosse contínuo e inesgotável, os machos ao invés de perpetuarem a espécie morreriam de fome e deixariam de buscar fêmeas para acasalar, dado que não precisariam delas para terem aquela sensação de prazer. Desta forma, fica claro hoje em dia a busca frenética dos seres humanos pelo prazer e pelas sensações de bem estar a qualquer custo, e a relação disso com o estado de tristeza ou felicidade (HARARI, 2020, p.397), independente da forma como eles buscam alcançar este estado. Não obstante, a busca pelo prazer pode não ser a causa direta da felicidade mas, pelo contrário, a sede insaciável por prazeres irrelevantes e efêmeros acaba por ser o cerne de toda dor e sofrimento, é o que nos diz o budismo. Contudo, apesar de termos agora esta informação acerca apetite humano pelos prazeres, o capítulo deste livro em questão revela que o lazer não deve ser considerado sob nenhuma hipótese apenas como uma forma de obtenção de prazer ou um momento de fuga, dada a sua importância e sua dimensão, o lazer, na mais remota das hipóteses, pode ser considerado como um mecanismo que regula necessidades humanas, através da arte, do encontro e da partilha, integradas e postas em prática fora do meio de atuação, produção ou geração de resultados impostas pelo capitalismo, isto é, o lazer deve ser antes de tudo, uma ferramenta de comunhão do indivíduo consigo mesmo, além disso, precisa ser uma prática que concilia e equilibra as necessidades de consumo às demandas diversas oferecidas pelo próprio universo do lazer.
De modo mais específico, o lazer brasileiro foi caracterizado por atender os requisitos das primeiras greves onde a classe trabalhadora lutava por direitos tais como o tempo livre durante a jornada de trabalho. Desde as décadas de 1920/1930 foram estabelecidas fortes relações com os profissionais de educação física onde este, foi desafiado a mudar o pensamento medíocre que se tinha devido ao tempo de “não trabalho”, desde então até os menos favorecidos ao lazer, ou seja, a classe operária passou a ter direito a ele; não como uma forma de “não trabalho”, mas até mesmo uma forma relacionada a uma melhoria de vida quando aborda a manutenção da saúde e consequentemente uma ideia de recuperação das forças para uma nova jornada de trabalho. O grande papel do profissional de educação física/lazer passou a ser a necessidade de adequar um espaço para a ação. Formando um campo de recreação, foi onde criou-se a diferença entre recreação e lazer onde o primeiro termo quer fazer referência a ser definido como um conjunto de atividades e o segundo abordar um fenômeno social.
A importância que lazer tem nos dias de hoje, começou a ser construída na década de 60 onde se formaram discussões em prol de tornar o fenômeno social como uma vertente que tinha grande importância para o impacto direto com a sociedade. Nos dias atuais, observa-se que grupos de pesquisa realizam diversos eventos, publicam artigos e até mesmo livros sobre a temática. Passou a se tornar uma forma de conhecimento interdisciplinar onde envolve saberes como: ciências sociais e psicologia, além de comunicação social e a tão indispensável educação física. O assunto existe uma necessidade de ser tratado de uma forma mais crítica mesmo com tamanhos avanços e progressos das secretarias que são ligadas ao lazer.
Pode-se identificar que a prática de lazer está ligada à cultura enfatizando também ser ela um conjunto de valores, normas e hábitos como representações relacionadas à vida em sociedade, apresentando interesses como, por exemplo, os físicos, sendo que como forma de manifestação cultural o esporte tem maior atenção, pois consegue englobar uma série de procedimentos, posturas e produtos capazes de identificar cada grupo relacionado à sua área da prática de esporte. Já quando se fala de interesses artísticos, o profissional de lazer tem a possibilidade de agregar o mercado de entretenimento onde faz com que seja despertado nos indivíduos o interesse por produções artísticas.
Os interesses manuais diferentes de hobbies tem o intuito de provocar no indivíduo o prazer à manipulação de objetos. Os interesses intelectuais estão totalmente ligados à prática de um raciocínio exigido em atividades propostas, isso também se define como educar para o lazer. Dos interesses sociais compreende-se a promoção de encontros formalizando a vida em sociedade compartilhada. A cidade torna-se um papel fundamental para o desenvolvimento do lazer onde o profissional traz consigo a responsabilidade de mudar a percepção que se tem de lazer e buscar melhorias relacionadas à cultura onde tem a missão de fazer a integração entre cidade e cidadão, pois esta é a melhor forma de intervir pedagogicamente na cultura agregando prazer e diversão nas atividades.
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