Retrospectivas,
Não são retroescavadeiras
Apesar de desenterrarem fatos
Ocorridos sobremaneira
Como se fossem corpos exumados
Para confirmação derradeira
Ainda assim criam caso;
Recheando o doce bolo do presente
Com a cobertura azeda do passado.
Tratos sim,
São como tratores,
Derrubando obstáculos
Findando rumores;
Na obra da vida
No canteiro de cores
Quem tapa os buracos
Donde nascem flores
Semeiam a esperança; e esta,
Nasce; renasce; ressurge das dores.
Aves,
Não são como aviões
Apesar de planarem
Em elevadas amplidões
Não têm destinos certos
Nem rota para colisões
Isentas dos controles
Das redes, sociais prisões;
O céu para elas não é o limite
É universo inverso às preocupações.
Botes,
São como boatos
Boiam por um tempo
Salvo em mar agitado
Viram; reviram; se desfazem
No ápice de um naufrágio.
Como longas sílabas picotadas
Num denso linguajar gaguejado;
Os mexericos também duram pouco
Pelos lábios vorazes do tempo
O quanto antes são logo chupados.
por Júnio Liberato
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