Se o mundo fosse feito artesanalmente
De bambu amarelinho, de verde listrado
Certamente iria ter suave cheiro de infância,
Assim que estivesse por fim fabricado,
Me lembro vagamente porém, com esmero
De quando fazia com bambu uma flauta
E com o restante que ainda sobrava
De improviso fazia um arco e uma lança.
Sem que houvesse uma razão qualquer
Específica de causa ou dotada de efeito
Apenas com meu imaginário de criança
Bastava tão pouco para sagrar-me satisfeito.
No terreiro explorava o mundo
Tendo o bambu como único brinquedo
Sem buscar fazer nele significativas mudanças
Nem ao menos sonhava em conhecê-lo
Pois sempre ao brincar no quintal lá de casa
Esquecia o resto dele me envolvendo,
No ritual sagrado da brincadeira
Construía com calma um mundo à parte
Que mais tarde seria minha herança
E pouco a pouco, sem tanto alarde
Fui virando do tempo um vassalo
Deixando à revelia os brinquedos de bambu
E os demais que foram improvisados,
O pedaço de madeira e o casco do tatu
Estão hoje tão distantes de mim
Quanto as lembranças que tem me visitado.
por Júnio Liberato
Que sensação maravilhosa tive lendo esse texto!Pude até sentir o cheiro de Mato e de chão pisado!
Sua sensibilidade é admirável!
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Obrigado pelo carinho e pela visita. Forte abraço ❤
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Lindo, sensível e gostoso poema, Junio! Consuelo Pagani
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Obrigado Consul pelo carinho e pela visita, abraços.
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