Prioridade

Sobrevivi. Nada além de um dia normal
Conversas vazias, espaços inabitados
A angústia até abriu uma nova filial;
Todas as relações fantasma eclodiram
Sobremaneira neste serpentário cordial
Fui picado diversas vezes seguidas
Crendo nas cobras de modo fraternal,

Grande idiota sou, pareço não aprender,
Acaso não sou o criador deste deserto
Árido e triste onde estou a perecer?
Sinto que já morri há muito tempo
Sepultado nas covas de cada rosto
Acolhendo minhas dores com falso riso
Como quem depõe numa inquisição
Tendo como lápide um olhar torto fingido,

Nem todo coração goza as delícias do amor,
Não é toda madeira que pode suportar
A terrível pressão exercida por um prego,
Alguns, simplesmente são tão ímpares
Como pecinhas quebradas de um lego
E o que omite sempre tem suas razões
Para continuar fazendo-se de cego.

De igual modo, sofro novamente nesta lida
Todas as suas prioridades se destacam
E, prezo muito para que você as siga;
Porém, notei um pequeno detalhe
Que é mínimo mas mesmo assim me intriga
Notei que quando estamos juntos,
As suas são mais prioritárias que as minhas;

Sim, para você não faz tanta diferença
Que nossos encontros venham a ocorrer
Quando toca o telefone ao fim do dia
Não há tanto entusiasmo em atender;
Talvez eu esteja botando fichas demais
Num orelhão cuja a fila precisa se mover,
Mas parece que a ligação é tão urgente
Que o medo de quem sente
É a vitória de quem não vê.

Nesse boteco de ilusões já me tornei freguês,
Quem sabe se não fossem necessárias
Tantas cobranças minhas feitas por mês,
Se eu lhe desse então o benefício da dúvida
Fingindo não ver que tudo se desfez,
Seria eu mais um cego que não quer enxergar
Que para ti não passo de um eventual talvez.

por Júnio Liberato