Cansei de ficar bancando o bobo da corte,
De vagar por aí semeando sorrisos ao vento
Enquanto cultivo tantas dores e monstros
Nos campos desertos que comporto por dentro,
Por esta razão resolvi radicalizar,
Cortando os ramais do meu telefone,
E do cabo que liga a televisão à antena,
Farei um varal para quarar sem pena,
Minha alma que pela luz anseia e tem fome;
Se fosse capaz até devolveria as parábolas
Atirando-as como bumerangues de volta ao espaço;
Não quero mais saber das “boas novas”
Afinal, nada de bom pode surgir deste fiasco,
De atmosfera que engloba minha vida
Deste clima seco vomitando seu mormaço,
Então, faça por mim este pequeno favor
Poupando-me inteiro de todas estas farsas;
Não me importo mais com eventuais burocracias,
Nem me incomoda mais dar com as portas trancadas.
Quando a condução não passa,
Tornando eterno o seu atraso
A viagem perde o sentido e a validade,
Mesmo que se esteja há tanto tempo aguardo;
Importa-me lá agora o que se passa no entorno
Sobre quais partidos políticos existem,
Sobre os milhões que são pagos de suborno,
Quantas são as castas que habitam o planeta
Ou qual o número exato de ecossistemas novos,
Informações reunidas até o gargalo
Para em algum momento chantagear o globo.
E sendo assim, tanto faz, tanto fez
Não me interessam a contagem das espécies
Das galáxias, dos espaços, das estrelas
Melhor seria que todas fossem estéreis
Para que não se propague esta dor
Que tanto mata, que tanto persegue.
Tudo isso parece mania de grandeza,
Por isso, não me importa mais;
O incontestável já é uma masmorra cruel,
E o seu maior carrasco é o futuro,
Não me interessam os dados quânticos
Que se dilua tudo em mercúrio,
Quanto mais se sabe quanto ao externo,
Mais o interno se torna escuro,
Ofereço o dedo mediano,
Tudo isso não mais me importa,
As plantas catalogadas,
As ordens herméticas da Europa,
Os lagos; os oceanos; as lagoas,
Só o poço de lágrimas importa
O que escavei com as próprias mãos,
E enchi com o sumo de minha alma oca,
Nada mais importa de fato,
Vou repetindo até que chegue a morte,
Sou agora um idiota convicto de suas façanhas
Mais vazio do que o dito Polo Norte,
Por isso nenhum delírio externo me interessa
Nem dragões que cospem fogo,
Primos distantes das lagartixas,
Nem os fósseis destes extintos,
Ou os mapas, junto às pistas,
Tampouco o ângulo perfeito
Ou os vértices de um tecerato,
Cansei de ver os colares certos
No pescoço dos porcos errados,
Que se danem as descobertas,
Pelas cabeças com preço alto
Por seu nome e endereço;
Por seus segredos guardados
Informações altas demais
Para alguns crânios tão limitados,
Pago o dobro, se brincar o triplo
Afim de manter-me no anonimato;
O mesmo dote ofereço logo,
A estes, os ludibriadas
Pela felicidade da pílula azul
Da ignorância servida em pratos.
Só desejo me retirar de cena
Deste palco por aplausos ovacionado
Pelas mesmas mãos que atiraram sobre ele
Moles cascas de banana em cachos
Este é o cinismo que me rodeia
E faz de mim desinteressado,
Levando-se em conta que meu coração
É um músculo há muito ludibriado
Um mundo à parte que gira fora de órbita
De certo se fará em milhões de pedaços
Uma vez que se encontra em rota de colisão
Com a força dessa paixão que não vale um centavo
Por isso nada me interessa mais nada,
Nem as transações, nem os dados bancários.
por Júnio Liberato
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