A gula que me acometeu foi tão breve,
O sobrepeso da consciência que foi grave;
E logo percebi com o quê me servia,
A ver desfigurados os rostos de vaidade
Semeava ilusão em pratos tão limpos
E em troca acabei numa solidão estrave.
Meu paladar lateja por hora anestesiado
Queimada a língua em detrimento à ânsia,
Quem me dera o sabor doce tão aguardado
Fosse o mesmo degustado nesta circunstância,
Escolhendo a dedo as vítimas a olho nu
Como fui tão superficial em minha observância.
Todavia em nada me agrada sentir sede,
Já que aquela velha sensação de boca seca
É então armadilha disfarçada de desejo
Como cofres destrancados rentes à parede.
Sinto inveja dos que convictos matam sua sede;
O beija flor no néctar; a dor na esperança,
O peixe que por sorte escapa ali da rede,
No lampejo de um raio jaz a dita felicidade
Daí há poucos segundos evapora-se para sempre.
por Júnio Liberato
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