O despertador do sertanejo é o galo carijó,
E dele o sustento consuma-se garantido.
Mas, e além das montanhas? Há lágrimas?
Eis que amanhece outra vez no mundo escurecido!
Aqui, a luz revela mais dores do que prazeres;
Falsa modéstia, aos que dizem “que paraíso”
A rosa do povo não é mais tão florida,
Todo ambiente em torno encontra-se varrido.
Todavia é sabido por um leigo qualquer
Que é necessário haver luz para se haver vida,
Porém a luz dos olhos alheios, não possui energia boa
Para que aconteça a fotossíntese (de)vida!
Seria então a escuridão o habitat da felicidade?
Já que se sob a luz alguém consegue vê-la,
Logo buscará maneiras de destruí-la!
Falsa modéstia, quem diz: “tamo junto”,
Está junto na verdade a um bando de víboras.
O calor escaldante típico dos sertões
Aqueceu-me tanto, a tal ponto que agora
Passou a queimar-me lento e profundo.
Lento, mas talvez obstinado; contrito.
Seguindo a lei natural do universo,
Onde rondam tantos mistérios ocultos,
Que não deveriam sequer serem descobertos.
Em meio a este episódio catastrófico
Em que me encontro deveras desencontrado
Não posso (mas queria) fingir-me cego
Ao testemunhar com meu olhar vidrado
A rosa do povo que encontra-se murchando,
Enquanto podam-se suas folhagens e galhos,
De um a um seus botões tão macios
Sem chance a defesa, sendo todos quebrados;
No entanto, as saúvas que o fazem,
Se diferem das demais, por completo.
Ao invés de seis patas, apenas duas;
No lugar de presas, trinta e dois dentes seletos.
São maiores, raciocinam (eu acho)
No lugar do instinto, avareza por progresso.
As pétalas vão sendo arrancadas uma a uma
Enquanto lentamente o seu algoz possesso
Oscila entre o “bem me quer” e o “mal me quer”,
Fazendo o jardim florido patinar no regresso.
Falsa modéstia, quem grita “fogo neles”,
Ditando no digital “ordem e progresso”!
O jogo que se desponta é tão antigo
Russado a barba teria se humano fosse,
Antigo, muito antigo, garanto com razão
Sofreu apenas mudanças, modernizou-se.
O nojo e o desprezo sentidos pela rosa
Aumentaram mais, bem como a distância
Existente entre quem pisa e quem chora,
Entre o “berço de ouro”, e a manjedoura do campo.
O perfume da rosa é o suor exalado,
No chão de fábrica, o barro morno
São as mesmas lágrimas que no lodo
Mentem seus botões vivos e hidratados.
A esperança é no jardineiro divino,
Que já está vindo para resgatá-los.
E para os opressores, os violentos,
É como se todo suor fosse tóxico,
Todo sangue um vinho suave,
E qualquer contato um distúrbio fóbico.
Não sei qual a relação de balanço;
Falsa modéstia, quem diz “volte logo”;
Pois bem sei eu que bebem-no com classe
Enquanto a cor avermelhada desta sutil rosa
Torna-se pálida; pálida, até secar-se,
Perder a cor e a vida, e todo o resto, tão pobre.
Falsa modéstia, os que dizem “Deus acima de tudo”
Meu Deus! Nós sobreviveremos de forma nobre?
por Júnio Liberato
Muito bom!!!
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Obrigado pela visita! Volte sempre. Abraços!!! ❤
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