Ultimamente tenho olhado para as flores
Com o mesmo olhar que verto a um jazigo,
E sentido no peito uma cruel amargura
Me percebi mais perto do fim derradeiro.
Por um instante imaginei ser loucura,
Dentro de alguns segundos,
A loucura tomou forma,
Uma vez que com vácuo e nada mais
Tentei preencher esta lacuna que me engloba.
Dentro de mim há um incômodo anormal.
Sem ponteiros, sem pilhas, nem “tic tac”
Um relógio mais alto que o da catedral
Debita meu tempo; o tempo perdido,
Perdido com coisas, ou com fulano de tal.
Relógio. Relógio, antigo e à corda,
Bem alto, quase que intocável,
Como nas torres da sinagoga
Girando em sentido oposto à vida,
Levando de gaiato o meu tempo embora.
Apesar deste embate narrado às lágrimas,
Lamento por ser do tempo subalterno
Tenho lutado contra uma gulosa lagarta
Que devora astuta meu jardim interno
Transformando a alva da manhã perfumada
Num caos típico do Dantesco inferno;
Meu maior medo é ceder-lhe a razão
E junto às flores murchar num cemitério.
por Júnio Liberato
Lindo poema, mas que reflete extrema melancolia.
Abraços de carinho
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigado
CurtirCurtir