Deixei de lado sem muita cerimônia,
As minhas parcas petulâncias do achismo
De um ser ridículo insistente em ter razão,
Fingindo ser praticante do altruísmo.
Desci os degraus lodosos da arrogância
Temendo com isso levar um escorregão,
Já que ao ascender a escala do ego,
Fazendo amornar meu coração
Uma vez no topo o próprio ego
Lança-lhe de volta sem pudor algum ao chão.
Reconhecendo de vez toda hipocrisia
Que paira sobre mim como uma nuvem
Compreendi de vez que eu não era águia,
E sim um frágil sabiá em penugem,
Meditando sobre as questões profundas da vida
Fui como o aço ao ser corroído pela ferrugem;
Enfraquecido pelas bases, um ser humano,
Às vezes não sabe sequer como elas surgem.
Paguei todas as contas atrasadas,
Tomando notas de minha insignificância;
Como agiota das amarguras da alma
Fui um farsante, um mascarado, um pilantra!
Sob a ótica do universo somos partícula e pó
Sob os olhares de Deus, somos arteiras crianças,
Que brincam o tempo todo com fogo proibido
E a poster fazem dormindo xixi em suas camas.
Subi o monte íngreme em plena madrugada
E pude sobre a rocha negra avistar
Estrelas cadentes rasgando o céu escuro
Escoltados pela pálida luz do luar
Enquanto corujas chirriavam nas galhas altas
Deixando um certo clima de suspense no ar,
A beleza é tão relativa quanto as folhas verdes
De uma árvore qualquer quando o outono chegar.
Vi então de uma vez por todas
Que a beleza é nula e abstrata
Não é sobre olhos, ou sorrisos,
E sim sobre coisas da alma,
É um nó cego em laço fino,
Que olho nenhum desata
Pois a beleza se torna fútil
Se acaso for erotizada,
Como manequins sem vida
Nas vitrines requintadas.
O belo é invisível aos olhos,
O resto é apenas uma faixada.
por Júnio Liberato
Belíssimo poema, como sempre… Abraços
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