Flor Do Deserto

Preciso desabafar minhas mágoas,
Liberá-las junto aos suspiros decepcionados
Que exalam através de minhas narinas,
Canal alternativo às aventureiras lágrimas
Paridas pelos meus olhos alaranjados.
Suas mãos, ásperas de desprezo,
Machucam minha pele suave,
Confesso que seus arranhões me incomodam.
Suas mãos não afagam-me bem,
Mesmo assim, algo me prende a ti
E prender, nesse caso complicado
Revela-se o termo mais adequado,
Apenas você não se adequa a mim.
Bem, sonhei em todos os casos,
Ser tocado por ti como a alva da manhã
Toca a planície até então engolida
Pela espessa cortina noturna,
Ora opaca, ora translúcida.

Não pude deixar de me ater aos fatos
Mesmo assim, duvidei por um instante
Pois, quando se ama dobrado, e é fato,
É muito comum questionar-se outra vez,
Infelizmente, tenho que admitir
Que no subterfúgio da vida a dois
Não fui capaz de abrir os meus olhos.
No entanto, um relacionamento
Não se trata de um mero escambo,
Pode apostar, quem pede algumas vezes,
Mais tardar, se encontrará implorando.

A destra calejada com a qual escrevo
Como se tateasse um texto em braile
Deslizou carente pelos seus cabelos
E como uma pequena mão habilidosa
Que toma de súbito um pulso qualquer
Percebeu já não haver calor em teus cachos
Que transmitidos por entre meus dedos
Impediam-me de afastar desolado
Pois, essa é uma questão de vida ou morte
Eis que pereço sob domínio de meus medos,
Ainda resistindo à ideia da despedida,
Entre o baque de partir com a descoberta
E a teimosia do coração iletrado
Em permanecer alojado em suas feridas
Guardando tudo mais em segredo.

por Júnio Liberato