Quase perdi a sanidade
Tendo por herança, uma nau à deriva,
Revoltos mares de solidão
Banharam a orla de meus sorrisos
Nuvens negras de tempestade
Deixaram-me em nervos, aflito
Os raios iluminam meu rosto
Os trovões castigam meus ouvidos.
Minhas idéias, já não vigoram
Se comparam a um amontoado de silos
Numa lavoura de puro joio
Onde foi renegado o trigo,
Pois, o pão já não cresce mais,
Julgaram ser o fermento inimigo.
Os ventos não sopram mais
Como antes, intensamente
As asas ganharam novas serventias
A solidão uma roupagem diferente
Agora, levante-se e marche,
Tudo mudou, nada normal, e de repente
Passaram a enterrar os frutos
Queimando por fim as sementes.
Abra as janelas da sua memória
Antes que as mesmas sejam apedrejadas
Saia em marcha, parta em expedição
Já é hora de bater em retirada,
A vida pede sossego,
A alma jaz violentada.
A obra prima da natureza
Tornou-se musel falido, que pena!
Quem passa já não vê mais
A perfeição autografada em cada cena.
A quietude há muito faleceu
No passado bem distante jaz velada
Vamos! Acabou-se a maresia do sossego,
Não há mais prazo para sentar-se na calçada
Enquanto a lua baila elegante no firmamento
Sob a regência de uma orquestra estrelada.
Desafinaram-se os tons dos assovios
Até o vento assovia mais tristonho
O sabiá que outrora cantarolava
No galho mais alto do pé de jambo
Não desfila mais em meu quintal
Ao menos sequer o vejo voando.
Sumiram-se as aves tão belas, canoras
Que cresci ouvindo na minha infância
O meu maestro aqui é o tempo,
A felicidade é quem paga minha fiança
As histórias das aves que guardo
Com tamanho zelo em minha lembrança
São as páginas, rascunhos de vida,
Que a meus filhos deixarei por herança.
por Júnio Liberato
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