Com a atraente caneta da desilusão
A próprio punho redigi uma lista.
É que de repente aqui me ocorreu
Uma lembrança equivoca e longínqua
De certos “amigos da onça” que conheci
Ao longo da longa falácia da vida.
Como profundo desejo de grafar cada um
Na autobiografia conturbada do meu ser
Aqueles que vão ao meu velório
Apenas para fingir minha perda sofrer
Banhando de lágrimas meu cadáver gelado
Afim de que todos ali o possam ver.
Verdadeiros espinhos no caule da flor
E cacos de vidro em meu alimento
Quantos hoje ainda estão ao meu lado
Pétalas murchas sopradas pelo vento.
Com a mesma caneta, gasta e falhada
Assinei por decreto a minha sentença
Com minha letra, garrancho borrado
No caderno do cárcere, a minha doença,
Guardo com pesar o amor aos mais próximos
E com muito esmero, carinho aos farsantes
Declaro que não os quero em minha vida
Mas, quero ver-lhes muito bem (distantes)
A vida é mesmo um belo e chato alfabeto
São poucas vogais, porém, muitas consoantes.
Como se não bastasse esta lista amarga
Com o nome daqueles dos quais me enganei
Muitos sobrenomes me deixaram perplexo
Que lá no passado mais do que a mim mesmo amei
Contudo, perderam suas máscaras com o tempo
E temendo a imagem dos seus rostos, me afastei.
Sei que chorei lágrimas sinceras
Por pessoas errôneas com as quais me envolvi
E hoje percebo que o maior erro cometido
Foi deixar que elas permanecessem ali
A tempo de me causar tantos prejuízos
Dos quais até hoje não me ressarci.
por Júnio Liberato
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