Focar o nosso pensamento somente em boas coisas e acontecimentos é preciso, contudo, e as ruins? Por que não pensamos nelas, se elas existem e são muito comuns de ocorrer? Simples, porque só desejamos aquilo que nos convém, a metade do bolo que possui o recheio cremoso e suculento, pois, somos egocêntricos e incapazes de compreender que sem o erro, não buscaremos pelo acerto, uma vez que sem fome, não buscamos nos alimentar, e o corpo enfraquece até perecer por completo pela agonizante falta de vitaminas. A vida é composta desta forma, como disse o escritor Rubem Alves, “ostra feliz não produz pérola”, e completo este sublime pensamento dizendo que, se não estiver frio, não vamos buscar nos aquecer, e se a vida for boa o tempo todo, não vamos dar valor a nada, já que é o sacrifício para se conquistar algo que gera por ele empatia e zelo. Ainda assim, não sabemos se, ao apostar nossas fichas e investir nossos recursos, teremos como retorno um oceano de coisas boas, um lago de decepções, ou uma tempestade que irá destruir o resto que sobrar depois de todo esse temporal de novidades… não sabemos, mas mesmo assim teimamos, e é teimando que descobriremos, porquanto, se não tentarmos não vamos saber o resultado, o que bem sabemos é que sem um barco não atravessaremos o oceano, se não soubermos nadar, nos afogaremos no lago, e sem abrigo, a tempestade com toda certeza vai nos prejudicar bastante, por que ela vem amparada por raios e trovões, além dos fortes ventos que derrubam tudo que estiver em seu caminho, então, fica claro que o que a vida exige de nós é preparo, nada mais do que isso; com o devido apresto saberemos tomar sábias e concisas decisões, e preparo é adquirido através de experiência, logo, a vida é uma orquestra regida não pelo destino, mas sim, pelos rumos que as coisas tomam a partir de nossas decisões. Mesmo sendo a vida tão incerta, a partir do momento que se crê com fidelidade em algo, ela passa a valer a pena, e viver se torna um desejo sincero do coração humano.
Talvez, eu devesse procurar proteção nas esquinas da minha biografia, nas curvas da autopista e fugir das retas traiçoeiras, dos entroncamentos e das encruzilhadas, porque estarei desprotegido, além de ser uma clara evidência de que estarei confuso e sem saber qual rumo tomar, e isso eu não quero; não desejo nem nos meus piores momentos, ser um perdido em meio às estradas dessa vida. Embora o mais importante ser o caminho em si, é preciso que se tenha bastante maturidade para sair da estrada poeirenta e cheia de pedregulhos, e ingressar numa grande BR, onde a atenção deve ser redobrada e a concorrência por uma vaga entre as faixas é maior. Entre o buzinaço e os palavrões que você vai ouvir, os objetos jogados pelas janelas dos veículos, cujos motoristas negligentes, não tem a menor preocupação sequer, se vão ou não acarretar graves acidentes, dentre esses e outros imprevistos, serão muitas coisas que lhe poderão atrasar ou, fazer com que você perca a direção e saia da estrada, mas, o segredo de uma boa condução, está além da atenção, na velocidade, assim sendo, só devemos acelerar quando sabemos que a passagem está livre e o momento propício para isso, entretanto, sempre devemos estar prontos para acionar os freios, e não devemos ter medo de frear, porque é melhor atrasar a viagem, do que nunca chegar ao destino. Seguir as placas é o que se deve fazer em seguida, a fim de que se saiba as condições dos locais por onde se está trafegando, mesmo assim é preciso que se tenha cuidado, posto que até mesmo as placas erram, e mesmo que estejam indicando o rumo certo para o local que se procura, pode ser que aquele caminho não seja o ideal para você, e sim, outro deveria ter sido tomado, já que os logradouros são vários, pelo motivo de haver pessoas de todas os lados buscando um mesmo destino, e nem todos eles vão fazer o mesmo trajeto.
Não é possível ser perfeito ou sequer chegar perto disso, nem adianta querermos ser, porque almejar ser aquilo que não se é, é abrir as portas para o sofrimento. Não é algo muito justo reclamar da falsidade das pessoas, nem das atitudes torpes que elas têm, simplesmente porque estamos no mesmo barco, preenchidos pelas mesmas mazelas emocionais de um corpo e uma mente que desconhecem a plenitude de serem santos, e desta vez, não me refiro a barco como uma metáfora usual para se referir a planeta ou mundo, e sim, com um certo tom de repúdio, como um acervo de erros e defeitos que todos carregam nas costas e na consciência, onde apenas os mais frios e desligados das emoções puritanas, são capazes de acometer sem sentir o incômodo daquele fardo imenso. Este barco não se compara a um cruzeiro luxuoso de primeira classe, nem muito menos se assemelha a um navio pirata, no entanto, carregado com a mesma atmosfera de medo e repulsa que este comporta, estas pessoas como sendo capitães destas canoas desgovernadas, sopradas pelos ventos da incerteza, que podem ser os mesmos que sopram a favor da mudança, seguem navegando neste imenso mar de variáveis que é a vida.
Todos em algum momento nos pegamos agindo em desacordo com as nossas convicções particulares, ninguém é tão bom quanto diz ser, na verdade é que como empreendedores do nosso próprio superego, adotamos muito a mania de nos autopromover e as vezes até articular e manipular por meio de mentiras, a fim de alcançar aqueles pontos, aspectos e coisas que desejamos e consideramos valer muito mais do que a nossa imagem, no que diz respeito à moral e caráter. O que existem de fato, são pessoas que lutam contra seus impulsos egoístas e auxiliados por uma criação exemplar desde a infância, baseiam suas vidas em cultuar os bons costumes, crentes que desta maneira poderão viver em paz, de certo modo sim, porque um estado de vida pacífico depende muito da integridade de nossas ações, entretanto, ainda assim uma hora ou outra nos surpreendemos sendo vencidos pela nossa natureza, pela soberba ou, pela avareza, e não é novidade para ninguém que as pessoas erram demasiadamente, a diferença crucial entre elas, se deve ao fato de que há aqueles que percebem o seu erro e buscam corrigi-lo com o intuito de não repeti-lo, e aqueles que se permitem levar pelas circunstâncias e passam a errar compulsivamente como forma desesperada de consertar um outro erro anterior, cometendo um novo, ou seja, um verdadeiro e catastrófico efeito dominó.
Desacertos são como células cancerígenas em nosso corpo, se não forem brecadas a tempo, passam a se multiplicar desenfreadamente. Somos reféns de armadilhas, cujas grades forjamos a próprio punho, presos dentro de nossas peles, encarcerados nas opiniões, privados de liberdade em função do medo do inexistente, e para que a decepção se complete, transformamos ou permitimos que algo exterior decomponham nossas mentes, fazendo delas verdadeiras masmorras e xilindrós blindados a chumbo, quando nos apegamos fielmente às doutrinas e convicções desta ou daquela filosofia de vida. Há uma frase que circula na boca do povo, que diz serem fúteis os indivíduos que discutem outros indivíduos, na verdade, quando falamos a respeito da vida de outras pessoas, a nossa pessoa se torna descuidada e desamparada, ao passo que deixamos de cogitar nossos interesses, para desdenhar, medir e avaliar sonhos e conquistas alheias, sendo que isso em nada agregue de positivo para nós. Entretanto, a meu ver, esta futilidade se estende muito mais e vai além, passando por discussões diversas do cotidiano das quais as pessoas se entregam de corpo e alma instigados pelas propagandas midiáticas utópicas, vendendo sua felicidade para causas perdidas, alienados pelo pensamento retrógrado de que precisam daquele padrão de vida para que possam alcançar a plenitude da paz e o ápice da felicidade, quando na real, aquele modo de vida é quem lhes garantirá uma enxurrada de transtornos e problemas dos quais é difícil se livrar. Uma modernidade que prega a luxúria ao extremo e a riqueza ao limite, exibindo seres humanos “perfeitos” modelados e reparadas virtualmente por filtros e edições perfeccionistas de photoshop, mostrando figuras glamorosas em telões de led, apresentando um consumismo divinizado que se tornou o deus terreno da atualidade capitalista. Uma batalha desigual, dentre tendências de moda e discussões religiosas que terminam em sua maioria em inimizades, as pessoas colocam umas às outras numa espécie de altar ou pedestal: gurus, líderes, celebridades, personalidades de todos os tipos, etnias e gostos, todos aqueles indivíduos que julgam deter alguma forma de poder, contudo, neste mundo em que vivemos toda feição de poder é apenas mais uma forma de escravidão e manipulação cujas garras, elos e cadeados são disfarçados e apresentados de um modo oculto e hipnotizador, uma espécie de flecha que vai direto ao centro do alvo: a nossa compulsão por consumir, quando na verdade, todo este sistema perverte as boas tradições e leva as pessoas a se consumirem, se autodestruírem e sabotarem umas às outras, como se todos estivessem concorrendo a uma espécie de competição maluca e sem regras, quando na verdade, só é possível vencer compreendendo que perdedor é aquele que denigre a si mesmo por meio de suas más condutas.
Enfim, mesmo estando atolados até o pescoço em corrupção e amargura neste mundo drogado e nocivo, mudar é a palavra que precisamos ter como objetivo diário a ser cumprido, o verbo do qual devemos conjugar cotidianamente, uma vez que apenas a mudança é o atalho que pode guiar o trem da vida de volta para os trilhos certos. É necessário que façamos todos os dias após se levantar, uma oração ou agradecimento que seja, e é ideal que de igual modo façamos uma recapitulação do nosso dia, com intuito de buscar e identificar aqueles comportamentos que não foram plausíveis e buscar corrigi-los. A mudança é a única a ferramenta eficaz que pode consertar os trilhos fragmentados daquele trem que mencionei anteriormente. Não é necessário querer mudar tudo e todos de maneira repentina e direta, porque algumas mudanças demandam tempo e ocorrem com auxílio de outras condutas que passamos a tomar, mas nem tudo muda ou deve se modificar. Mudar, no sentido mais estrito da palavra, significa transmutar-se, transformar-se, bem como um rio modifica seu trajeto ao se deparar com a montanha, esquivando-se da rota usual para buscar outra. Mude, metamorfoses são necessárias, a lagarta passa o tempo todo se alimentando, e a sua reserva de energia, embora ela não saiba, é a energia que garantirá sua transformação e lhe trará asas como recompensa de toda espera. Ocasionalmente permitimos que acontecimentos externos e opiniões alheias moldem nossas atitudes, bem como o nosso modo de pensar, isso não pode acontecer de modo algum, e é o tipo de procedimento que se deve evitar a todo custo, embora os preços sejam altos, busquemos traçar então novas rotas, até porque estradas velhas não conduzem a objetivos novos.
Lindo! Não sabia que às outras ,tem que está triste, para produzir pérolas!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sim, um pequeno grão de areia entra nela e a incomoda, e ela produz saliva que endurece com o tempo e se torna a pérola.
CurtirCurtir
Lindo texto com riqueza de percepção de quem realmente transcende esses nossos padrões que realmente precisam ser mudados.
Parabéns!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigado pelo carinho ❤
CurtirCurtir
Lindo texto!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigado ❤
CurtirCurtir
Lindo texto! Ele nos faz refletir mais sobre esse mistério q é viver. Parabéns!!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigado pelo carinho. Fico muito feliz que tenha gostado ❤
CurtirCurtir
Sensacional! 👏🤩
CurtirCurtir