Romântico À Moda Antiga

 Você ainda manda ou dá flores para alguém? Eu sim, ainda insisto em ser aquilo que gostaria que fossem comigo, e apesar das decepções serem frequentes, eu sei que tudo isso é preciso para que eu saiba dar o devido valor àquela pessoa que realmente vale à pena quando ela chegar. Até o presente momento, apenas presenteei as pessoas erradas, e confesso que muitas vezes me senti mais feliz ao dar flores para algum morto em seu velório do que alguma moça que me envolvi. Apenas uma expressão define o estado da modernidade atual: falta de reciprocidade. Em um dado momento na história, em algum ponto na linha temporal desta existência, o trem da vida pegou outros rumos, outros destinos foram buscados, e novos trilhos adotados para que ele se locomovesse… um novo estilo, e um novo modo de se viver foram tomados. Faz um bom tempo que o mundo deixou de ser o que era e isso me incomoda, porque me considero parte de uma geração passada que não conheci, mas da qual desejo ter feito parte, a geração em que os valores eram outros, muito além do que vemos nos retratos em preto e branco. A cordialidade e os bons costumes evaporaram do meio de nós, semelhante a água da chuva algumas horas após o reaparecimento do sol. E talvez, seja por isso que hajam tantas pessoas sofrendo por aí e o número de suicídios tenha aumentado significamente, por falta de empatia das pessoas. Alguns deixam suas aflições perceptíveis, já outras, mais fechadas, dificilmente ou quase nunca deixam transparecer seu sentimento de tristeza, angústia e revolta para com as situações da vida, porque sabem que fraquezas expostas são alvos fáceis para os inimigos. Eu não culpo estas pessoas, porque além de ser uma delas, entendo muito bem o que é se deitar sonhando em acordar e se deparar com um mundo melhor para se viver e se expressar lá fora. A sensação de abandono está destruindo as pessoas por dentro, pois bem sei como é difícil ter um bom coração e uma boa conduta, sendo que muitos se aproveitam disso, e machucam nossos sentimentos sem a menor preocupação com as implicações causadas. Faz tempo que o amor passou a ser interpretado de maneira distorcida, hoje, a definição deste sentimento perdeu completamente o real sentido. Se tornou algo feio, amar se transformou em sinônimo de sofrimento, de algo que vai terminar em graves arrependimentos. Quando eu falo de amor, eu falo dentre outras formas, de sentir e agir com compaixão em relação às pessoas, animais e criaturas diversas que dividem o mesmo espaço que nós. Amor à arte, à cultura, à vida… ou seja, o amor é tão dinâmico, que é capaz de assumir inúmeras formas e identidades, mas preservando o seu real e principal sentido: o desejo do bem comum.

 Eu sempre fui uma pessoa desesperada, sem paciência, dominado por uma ansiedade colossal, entretanto, busquei me tratar para entrar em equilíbrio com minhas forças interiores, quero encontrar a paz, e a ansiedade é inimiga da paz. Esperar o tempo certo para agir é uma escolha bastante inteligente e necessária para sermos íntegros com nós mesmos, porém, é uma tarefa muito difícil de ser posta em prática. Somos muito ansiosos e tendemos a ter pressa demais para que as coisas venham a acontecer, não sabemos esperar a hora certa de agir e o momento oportuno para falar ou dar o próximo passo, e por esta razão é que eventualmente nos faltam argumentos para convencer alguém de algo. Embora sejam tantos os relacionamentos que durem um determinado período de tempo, mesmo sendo aos “trancos e barrancos”, muitos deles desmoronam por haver tanta impaciência, que gera ansiedade e inquietação. As vezes ambicionamos a todo custo tapar aqueles buracos e brechas em nossas vidas, bem como a prefeitura faz com as vias públicas ou o dentista com aquela cárie que perfurou nosso dente, sem que façamos isto da maneira correta, por carência ou solidão acabamos muitas das vezes deixando com que qualquer pessoa entre em nossas vidas, sem nem ao menos conhecê-la o suficiente, ou saber se é alguém compatível com nossos pensamentos e ideias. A verdade é que quando estamos nesta situação, machucados e desenganados, tendemos a buscar alguém para curar aquela sensação de desapontamento e ilusão causada por uma relação ou decepção anterior, acabamos fazendo das pessoas uma espécie de curativo para aplicar sobre nossas feridas a fim de sará-las, quando na verdade estamos enganando a nós mesmos, porque a nossa vida é como uma festa restrita à poucos convidados, onde os penetras só entram para bagunçar e fazer baderna. Não é nada romântico usar alguém desta forma, porque precisamos ser íntegros, adotando uma forma mais “romantizada” de viver a vida.

 Talvez, seja este o motivo de tantas pessoas que terminam um relacionamento buscarem logo em seguida, imediatamente a todo custo colocar alguém naquela vaga que outro não estava apto ou não foi digno o suficiente para a ocupar, mas que ainda está à espera de alguém para fazê-lo, que todavia só irá chegar no momento certo: de calmaria, plenitude a amadurecimento, daí a necessidade de desacelerar e prestar um pouco mais de atenção aos sinais e implicações das escolhas que foram feitas. São muitos que se desesperam e instalam todos os aplicativos de relacionamentos por aí disponíveis buscando compulsivamente recuperar o tempo perdido encaixando alguém na marra, quase que à força bruta e de qualquer forma, naquele espaço vago em sua vida. Eu mesmo já me cansei de fazer isso, e quantas vezes quebrei a cara! Parecia uma sucessão infinita de desastres, e entendi na prática que além de não ser uma boa escolha, ainda por cima não funciona e nem vale o esforça. Temos uma necessidade incompreensível de preencher espaços vazios, entretanto, nem todos os espaços precisam ser preenchidos, alguns locais estão estritamente reservados ao vácuo apenas, e nada mais! O oceano é maravilhoso… o movimento aleatório das ondas, as nuvens que contrastam com a linha do horizonte, enfim, dentre uma gaivota e outra, entre uma ilha e outra, muitas belezas se concentram em meio aos espaços ocultos que só um olhar sincero e centrado é capaz de enxergar. No entanto, é no fundo do mar que estão as belezas e criaturas marinhas que fascinam nosso olhar e contemplam nossa visão com belezas, bem como tantas outras maravilhas da natureza, daí a necessidade de buscarmos imergir em tudo e em todos dos quais queremos ter por perto de nós, para avistar o mar de vida e de coisas boas que há dentro delas. Quando não reconhecemos as águas pelas quais velejamos, estamos correndo grande perigo de nos chocarmos contra algum obstáculo ou iceberg que irá afundar nosso navio.

 Ser um romântico à moda antiga, significa dentre outras coisas, não deixar que o passado seja o seu pior carrasco. Será que foi algo tão doloroso assim, que não possa ser tirado do foco principal de alguma maneira? Os sentimentos negativos só se manifestam, ganhando força e notoriedade, quando tem seus pensamentos e a sua atenção direcionados à eles quase que todo o tempo. Se você realmente se sente triste por ter transcendido a superficialidade desta época em que vivemos, deixado de lado o medo de se entregar como se o amanhã fosse uma invenção louca da nossa mente (e de certo modo não deixa de ser), e permitiu que suas emoções ganhassem vida própria se apossando do seu coração, passando a demonstrar sem medo os seus sentimentos íntimos mais sinceros, e que agora chora por ter se decepcionado com alguém que não soube valorizar estas endêmicas qualidades, pare, e entenda que quem perde por deixar escapar uma oportunidade destas nunca será você. Choramos, mas se pensarmos bem, às vezes até nossas lágrimas são derramadas por aqueles que deveriam estar chorando em nosso lugar. Entretanto, o fim nem sempre é por culpa da outra pessoa, precisamos analisar os dois lados da história, talvez, você ficou teórico ou repetitivo demais e não foi precisamente aquilo que deveria realmente ser na prática: completo, ao invés de em partes, sendo que é a união harmônica das partes que resulta no conjunto total da obra. Existem muitas outras coisas em jogo dentro de uma relação. Relacionamento é uma constante construção, são muitas etapas e fases a serem superadas. O nosso coração é um templo sagrado, portanto, não é qualquer um que é digno de entrar nele.

 Ser romântico é muito mais do que bater à porta da pessoa amada, portando em mãos um buquê de flores lustrosas e uma caixa gostosa de bombons sortidos, ou alguma espécie de ursinho de pelúcia, ser romântico é uma coisa que está encrustada dentro das paredes do nosso coração e misturada com nossas ações, começa quando você se importa com a pessoa sem esperar nada em troca, por que quer despertar nela aquele sentimento de afeto, e sentimentos deste tipo brotam de forma natural, sem que precise forçar espaços para caber dentro da vida daquela pessoa, pois, seu espaço está lá reservado à espera de você para ocupá-lo. Ser romântico é se entregar de corpo e alma, sem horário marcado ou dia em especial, porque todo dia é o dia perfeito para demonstrar o quanto se ama alguém, até porque não sabemos a hora que vamos partir, na vida não há tempo a se perder. Talvez, possamos pensar que é algo exagerado, ou até mesmo meio engraçado quando num filme de época, o homem tira o seu casaco e o joga sobre a poça d’água ou de lama para que a mulher passe sem molhar ou sujar os pés, eu mesmo confesso que sempre quis fazer isso, entretanto, aquela cena demonstra que ser cavalheiro significa tratar bem uma mulher não importando o quão louca possa parecer sua atitude, visto que quem ama de verdade sabe que nada é mais valioso do que manter aquele sentimento puro, intacto, livre de qualquer rachadura ou abalo, não colocando outra pessoa acima ou abaixo de você, mas sim, mostrando que é capaz de tudo para vê-la e mantê-la bem ao seu lado, independente das coisas que você possui, pois isso não tem importância alguma. O verdadeiro amor é imaterial, abstrato, e não cabe nos moldes de riqueza e luxúria deste mundo, porque é grande e intenso demais para isso. Por fim, ser romântico, é aprender os acordes e a letra daquela música, ou decorar e preparar a receita preferida que a pessoa tanto gosta, é saber escolher as palavras corretas para fazer com que ela se sinta especial. O romantismo mora nos pequenos detalhes e habita as grandes emoções, começa de manhã com um – bom dia! E termina com um – boa noite! Os sentimentos não devem ser regidos pela curiosidade, porque como sabemos a “curiosidade mata o gato”, mas sim, sentidos e interpretados pelas pessoas assim como os textos nos livros, que escondem detalhes e segredos importantes nas entrelinhas. Detalhes são importantes, nem sempre toda beleza que nutre os olhos ou as qualidades que nos atraem estão à mostra como uma espécie de catálogo ou menu onde se pode deslizar o dedo indicador e optar por este ou aquele item.

 Antes que a vela da mesa do jantar seja acesa, a chama do amor que arde dentro de nós deve ser abrasada, e mantê-la acesa talvez seja a tarefa mais difícil, porque não é qualquer tipo de material que mantém uma fogueira ou chama ardente por muito tempo. Antes do corpo ser despido minutos antes de uma noite de amor, a alma deve ser desnuda dos seus medos e receios, deve ser tocada não com as mãos, mas sim com a nossa essência que é aquilo que atrai alguém para perto de você por livre e espontânea vontade. Antes das pontas sensíveis dos dedos tocarem a suave pele, antes das impressões digitais ficaram marcadas e gravadas pelo corpo… antes de pelas narinas adentrarem o perfume marcante daquele alguém… antes de tudo isso, ele acontece. Antes dos lábios se tocaram e um suave beijo acontecer, antes de tudo isso o amor deve nascer, e quando ele nascer dentro dessas circunstâncias, ele será totalmente verdadeiro, porque o toque deve ser precedido por uma motivação, um desejo meio oculto, meio revelado, que age e impera dentro dos corações. Essa é a forma mais rara de amar. Não podemos competir com as nossas emoções, em algum momento elas vão ser mais fortes que nós. Sei que são muitas pessoas que gostariam de ter uma companhia para todas as horas, para os bons e difíceis momentos, por mais que sejam orgulhosas demais para admitir, eu sonho com isso, porque passei tempo demais desperdiçando minha vida em festas e rolês aleatórios que me faziam sentir vazio depois, e este espaço vazio convém ser preenchido, mas com calma, gradativamente e sem desespero. Pode não ser uma tarefa fácil ser romântico hoje em dia, somos tachados de loucos o tempo todo, mas é isso mesmo que somos, bons loucos, eternos malucos que buscam a todo custo fazerem algo improvável, independente do esforço, só para ver nascer aquele sorriso tenro nos lábios de quem amamos. Vale até a pena tomar um banho de água gelada ao fazer uma serenata não muito afinada, mas bastante apaixonada embaixo de uma janela. Românticos não medem esforços, porque o que eles fazem não é encarado como obrigação ou tarefa, fazemos tudo o que fazemos por puro amor, por pura e profunda admiração, algo que nem sempre é entendido ou bem interpretado por algumas pessoas que se acostumaram a receber migalhas e se limitaram a se contentar com elas, assim como as formigas durante um pic-nic. Ainda assim, existe muita gente por aí pela metade procurando alguém que a transborde, e do mesmo modo como existem muitas metades de círculo completando metades de quadrado.

 Continue sendo um romântico à moda antiga, e nunca se arrependa de viver na transparência. O verdadeiro amor desconhece os cruéis arrependimentos da vida. Quem já amou de verdade assim como eu, mesmo que não tenha sido algo recíproco, não se arrepende de ter se entregado a cada momento como o fez, porque foi sincero, e quando se é sincero e não se tem retribuição, o problema está é na outra pessoa e não em nós. Logo, fez o que fez de coração aberto, e quando o coração está envolvido, mesmo havendo riscos, a intenção vale por si só quando agimos com franqueza. Toda história, por mais conturbada que tenha sido, tem seu registro gravado e deixado impresso em nossa memória, não é possível apagar, por mais que se queira fazer isto, em algum momento a gente vai se lembrar de algum detalhe, e geralmente são aqueles que fizeram toda a diferença, sabe por que? Porque foi algo que nos fez bem, que marcou positivamente, mesmo que só por algum período de tempo que já não existe mais, porém, não importa o tempo que passou, o que importa é o impacto que uma ação causou em nós, porque os atos não querem dizer nada sozinhos, não obstante, são os atos que comprovam os fatos. Repetidas vezes confundimos a nós mesmos, se negando a enxergar certas qualidades ou defeitos em alguém, por desejar encaixá-lo, mesmo sem correspondência em nossos planos. Mas há pessoas das quais as aparências enganam, e muito! Aparências são como uma miragem que podem seduzir e enganar com bastante facilidade. São muitos que aparentam ser um vasto e profundo oceano a ser explorado, quando na verdade não passam de uma rasa poça d’água qualquer, como estas que brincamos de pular no meio da rua depois de um dia de chuva comum… são estas pessoas, que assassinam a sangue frio e pouco apouco, o romântico à moda antiga que reside dentro de nós.