Breves Reflexões Sobre A Contemporaneidade

Paralisado num canto qualquer da rua suja que compõe o meu mesmo trajeto de todo santo dia, observo o movimento apressado dos elementos e indivíduos que a compõem, onde inclusive convém fazer um ressalto de que faço parte dessa massa de desesperados. O contraditório de tudo isso é que avistei naquele mesmo instante uma pequena lesma que se locomovia por aquela rua, o engraçado é que ela não passará de uma criatura insignificante para maioria daqueles que cruzarem com ela em seu caminho, que bom que para mim foi diferente. Pode parecer estranho, entretanto, aprendi com aquela pequena criatura uma lição valiosa! É notório que ela não se move depressa, ser lenta é o seu estado natural ao qual ela está sujeitada até que morra, e por mais que para nós o tempo passe deveras rapidamente que, vinte e quatro horas se revelam escassas para se cumprir tantas tarefas do dia a dia, para aquela lesma não fará a menor diferença a cronologia, ainda menos a fugacidade do tempo, ela sempre vai chegar ao seu destino, não importa o que aconteça, a não ser que ela morra, não para de se mover e chega ao seu destino. Este é o segredo dela: nunca parar ou desacreditar de que chegará a seu destino independente da ação do tempo sobre ela e sobre seu percurso. Isso me faz pensar em como a pressa pode ser um fator determinante em nosso dia a dia, aliás, já diz o ditado: “a pressa é inimiga da perfeição”, prejudicando assim o rendimento e a nossa maneira de percepção quanto os aspectos da vida e as maravilhas do mundo que nos rodeia. O problema é que nos prendemos demais ao nosso próprio mundo onde as lesmas não existem.

Quem me dera se todos os dias fossem como as enfadonhas manhãs de domingo, já que se tornou um clichê dos bem vagabundos acreditar nos fascínios das alvoradas deste dia tão entediante, que muitos dizem ser o sétimo, já outros, o primeiro dia da semana. Quiçá todos os dias de sol fossem mesmo radiantes à exaustão, pena que não o são, porque sempre haverá uma “nuvenzinha” intrometida para nos conceder um lugar à sombra, quando o clima esquentar demais. Penso nos domingos chatos, muito mais além dos sabores e aromas daquele macarrão italiano com bastante molho na hora do almoço. Almoço? Puts! Até isso me fascina, no tocante à união, um fiasco! Poxa! Quase não se vê mais a família reunida para comerem juntas, celebrarem unidas, orarem juntas (para aquelas que são mais religiosas e tradicionais). No máximo, a sagacidade dos “flashes” é quem marca a junção das pessoas para celebrarem enfim seu reencontro depois de muito tempo numa noite badalada de muitos goles, e depois disso, tchau! Cada um se retira ludibriado para o seu canto, casa, apê ou barraco, para mais um capítulo de amargura e tédio que foram encobertas por alguns instantes de felicidade “fogo de palha”.

Bons idiotas, é isso que somos, é naquilo que nos transformamos. Idiotas por não aproveitarmos a vida como realmente deveríamos, por não dar uma pausa no massacre diário no trabalho e ir abraçar aquela pessoa especial que está distante de nós, e que o tempo cada dia mais se encarrega de distanciar pela sua ação impiedosa em nos conduzir para o porto de partida, o ponto de encontro com a desfragmentação da carne pela ação dos microorganismos presentes no solo. Para ser um pouco menos melodramático, o tempo está se esgotando e nos conduzindo para a morte eterna. A pior forma de morrer é estando vazio de memórias felizes e escasso de emoções sinceras. Essa tal conduta que a contemporaneidade insiste em manter na ativa, faz de nós idiotas e não palhaços como muitos são por aí alcunhados, quem dera fôssemos todos palhaços de cabelos multicoloridos, com o nariz vermelho como brasa ardente de uma fagulha de carvão na churrasqueira improvisada num canto do muro, oxalá! Se fizéssemos todos que encontrarmos por aí cabisbaixos sorrirem, ah! Quem dera todos nos tornemos bons palhaços, porque até os palhaços se tornaram tristes em meio a um planeta tão depressivo e rebelde. O mundo se tornou cheio de bolhas, pode ser uma tarefa árdua tentar se encaixar em alguma.

Queria saber qual o propósito de se crer com tanta convicção em coisas que foram consagradas ou pregadas por desconhecidos, mesmo que isso possa parecer normal: seguir a onda do momento, deixar se levar pelo calor do instante presente, se jogar nos braços do inimigo disfarçado de bom cidadão. Isso é picaretagem. Para que devo me submeter a coisas e ações ridículas que não são da minha índole só para ser admitido em um grupo qualquer? Isso não é necessário, porque às vezes os lobos uivam juntos e incessavelmente no alto da montanha mais alta, mas, é o lobo solitário que ronda as planícies o mais privilegiado, já que no silêncio da noite encoberto pelas sombras da solidão, pode ouvir e sondar com mais calma suas presas e acertar com maior destreza e precisão o seu alvo. Na quietude dos pensamentos muitas vantagens se pode tirar, quem muito fala acaba por se esquecer de ouvir os outros e de absorver os detalhes mais importantes da vida, deixando de se ater às informações necessárias do núcleo que o cerca. Palavras são perigosas armas quando utilizadas para destruir, e verdadeiras ferramentas quando aplicadas para aconselharem bem um qualquer que pensa em fazer burradas por aí. Palavras são mesmo venenosas dependendo da intenção com as quais as empregamos, a intenção é tudo, ela é o cerne de qualquer ação ou reação que se esboça. Palavras são como munição: algumas já estão dentro do revólver, já outras, na ponta da agulha, desastre certeiro se o gatilho for acionado! E ainda há aquelas que estão escondidas na ponta da língua, só aguardando o momento oportuno para serem entoadas e injetadas junto ao veneno da víbora.

A visão romantizada que temos das coisas e o endeusamento que podemos fazer de pessoas são duas ações que comumente tomamos em determinado momento de nossas vidas. Não estou me referindo apenas às “grandes” celebridades que estão sempre esbanjando sorrisos falsos e dissipando glamour pelos cotovelos, me refiro principalmente a atos mais comuns, como quando veneramos uma pessoa que temos considerável afeto e sentimos paixão, a ponto de deixar de viver por nós mesmos, para passar a viver por ela. Este é o primeiro grande erro. A partir deste momento o nosso cérebro passa a funcionar em modo stand by (para não dizer desligado), e passamos a ter atitudes completamente idiotas que nos inferiorizam, como é que pode alguém divinizar uma pessoa mortal que é, em termos biológicos e fisiológicos, como ela? O que muitos chamam de “amor cego” eu defino como sendo falta de amor próprio, carência de se olhar com uma visão bem mais ampla, que transcende uma simples espiada pelo espelho capaz de lhe mostrar unicamente o estético, mas sim, uma autorreflexão profunda que será capaz de lhe revelar sua própria trajetória, suas lembranças, sua história e o carisma que juntos, deram vida à sua personalidade, levando em conta as cicatrizes e tropeços, bem como os retrocessos que lhe acometeram e as pancadas sofridas para se tornar a pessoa em questão que você é hoje. Tudo que fazemos enquanto não nos colocamos em primeiro lugar em nossa vida é tempo desperdiçado que não tem nada mais a agregar além da lição final que aprendemos: você deve ser a sua própria prioridade. É você e você. Você contra você mesmo. Se acaso você crê em algum Deus (assim como eu), ou segue uma religião específica, se apegue e estes dois e os siga com seu coração aberto e sincero, por que com certeza lhe ensinarão bons costumes e irão cultuar bons valores. É um erro grave demais pensar que tudo realmente gira em torno de uma engrenagem onde todos os elementos que a constituem são perfeitos e benevolentes, excluindo assim a carga negativa, o caráter contraditório, adversos de todos os milhares de acontecimentos positivos que desejamos que ocorram fazendo com que tudo dê errado e não venha a nos satisfazer como deveria. Para todo desejo há uma contraposição, para todo sentimento existe uma possibilidade de negação. No que diz respeito ao crescimento pessoal e a evolução como ser humano de cada indivíduo, não devemos em momento algum nos mostrarmos incapazes de reconhecer nossas próprias limitações.

A vida se tornou um grande teatro, todos usam máscaras, mas a maioria cai antes do tempo, se desmancha antes da hora! Ah! Quem me dera, se todas as moças que sorriem para mim no desenrolar do dia a dia, tivessem realmente motivos para sorrir, digo isto, já que por dentro seus corações magoados exalam o triste cheiro do amargor e da decepção causada por um idiota qualquer que se atreveu a machucá-la. Quem me dera! Seria muito interessante se aqueles que reclamam tanto comigo sobre sua vida, parassem de ver apenas os problemas, e ao invés disso se tocarem que podem se locomover, se comunicar, ouvir e se ouvirem, sentir e se permitir e de buscar pelos ideais como um leão que procura pela caça, coisas que muitos queriam poder fazer e não podem, e nem assim reclamam de suas limitações, estão incapacitadas fisicamente, infelizmente. Mas nós, estamos apenas com um bloqueio temporário e ele é psicológico, não é impossível removê-lo, apesar de poder ser uma tarefa bastante difícil. Basta perceber que a atitude é o primeiro passo decisivo para podermos ser vitoriosos em alguma coisa ou feito.

Vivemos numa era completamente dependente de tecnologias e de seus recursos adjacentes, de modo que possamos sobreviver em meio às responsabilidades e conseguir se destacar em meio a este monte de afazeres que temos na lida diária da vida, tudo está ao alcance das mãos, mais precisamente na ponta dos dedos. Entretanto, tantas facilidades de acesso e de execução de tarefas fez com que as dificuldades como um todo acabassem sendo removidas, e quando não há dificuldades o caminho se torna livre demais, as forças se acumulam e a falta de expectativas ou de ter que sair em busca de algo para alcançar acaba por saturar o nosso psicológico, acarretando frustrações e tristezas. O corpo não foi feito para permanecer em descanso, a mente é uma poderosíssima máquina que não pode cair em desuso ou repouso constante. Atualmente vemos por aí tanta falta de conteúdo que já se tornou comum acreditar que isso é a essência natural dos tempos atuais, tudo acaba meio que se invertendo, acabamos por pensar que aqueles que são diferentes dos demais são os estranhos. Sentimos medo das pessoas erradas, e veneramos as certas, cujos modelos são duvidosos. Medos, são simples peças de um quebra cabeça ainda mais complexo, quando unidos revelam sua verdadeira força e poder que podem exercer em nossa psiquê. De modo semelhante a uma densa cortina de fumaça que nos separam da derradeira felicidade, são constituídos na maioria dos casos por uma massa de incertezas que se ocultam por trás de um pensamento receoso e imobilizador: a insegurança. Seja lá qual for a sua magnitude, ninguém pode afirmar que ter medo é algo evitável, por que mais cedo mais tarde todos irão sentir, por menor que seja. É uma pena que essa seja a sua era: a era do medo, terror e pânico, em todos os sentidos e amplitudes possíveis dos termos. É preciso que se tenha muito cuidado com as atitudes que podemos vir a tomar ou que tomamos de cabeça quente sem pensar muito nas consequências, em determinados momentos críticos ao decorrer de nossas corriqueiras vidas. Não são poucos os instantes em que mentir pode parecer uma solução bastante viável a se escolher e a mesma que como um escudo de ferro lhe garantirá maior proteção e salvará a sua pele. Todavia, não é bem assim que funciona, como diz o ditado: mentira tem pernas curtas e por esta razão não pode ir muito longe, e tudo desmorona quando ela revisita. Mentira é uma ferida que machuca com maior intensidade do que a verdade. Porque a verdade por mais que doa não tarda a vir à tona enquanto que a mentira vira uma bola de neve. E o porquê disso? Simples, as pessoas mentem, se traem direta e indiretamente, sentem medo, mas não são capazes de dar o primeiro passo para mudar. É claro que isso não é uma generalização, mas se aproxima de uma.

Portanto, reforço o fato de que uma mensagem que você emite para alguém com uma intenção, pode não ser recebida na mesma sintonia pela outra pessoa para qual você quer passar a mensagem. Existem por aí espalhadas (e podemos encontrar em nosso dia a dia), uma infinidade de coisas que possuem diferentes utilidades, mas que, por outro lado, apresentam o mesmo valor, logo, pode ser que fiquemos deslumbrados com uma ou outra, mas não consideremos que talvez aquele bem adquirido ou relação de que adquirimos apesar de terem mesmo peso e valor, podem não trazer o mesmo retorno a longo prazo. É claro que não estou falando aqui apenas das relações recíprocas e dos riscos a que nos expomos com um pé dentro do mundo turbulento dos negócios, mas muito além disso, quero revivescer a questão da importância que está oculta nas coisas e dos ensinamentos e grandezas que representam para nós, levando em conta todo esforço exercido para que se alcançasse tal feito. É preciso sempre traçar uma linha imaginária em nossa vida e pesarmos na balança os dois pesos que temos em mãos, as responsabilidades das quais nos encarregamos: o que vale mais? Um momento ou uma coleção de muitos deles, ou seja, uma sucessão de situações vividas que por mais difíceis que foram, se revelaram compensatórias e propulsoras, e você foi uma pessoa que ao invés de ser apressada se deliciando com as migalhas do bolo, decidiu esperar com calma para poder futuramente saboreá-lo por inteiro.

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