Minha Vida Em Figuras De Linguagem

Enquanto vou desvendando mistérios e compreendendo com enormes dificuldades a complexa metodologia da existência, infiltro-me nas milhares de veredas espalhadas pela imensidão deste universo e, consequentemente, perco-me por várias e várias vezes nas densas penumbras que permeiam a minha orbe interior. Vou aos poucos incluindo os sentidos diversos a serem tomados e significados aleatórios a serem compreendidos, de cada medo absorvido e cada conclusão, seja ela fruto de pensamento racional, ou de um instante resultado de um grande “estouro” de euforia momentâneo, em que jogo para o alto todas as regras a serem seguidas e perco completamente as rédeas da situação, (quem nunca não é mesmo?), assim vou tecendo cada fio de esperança, congênere a uma aranha ligeira que tricota na quina de um velho telhado, bem onde as duas vigas se encontram num evento matemático, formando um ângulo de noventa graus, a teia que garantirá a sua sobrevivência, porquanto, por meio dela é que irá capturar suas presas e também, conter seus inimigos mais temidos.

Fundamentado no mundo exterior, que querendo ou não será absorvido para dentro do meu universo mental, que diga-se de passagem, nem sempre apresenta-se saudável e bem equilibrado como um soldado que comparece frente ao pelotão, posto que se revela nestes instantes de breu intenso um ambiente bem melancólico e tóxico, visto que os bons pensamentos são logo aniquilados, desintegrados, quão intensamente uma vela frágil que é derretida pelo calor ou, um certo material sutil que é corroído impiedosamente pelo ácido. Na pior das hipóteses, tais aforismos nem se quer chegam a existir. De tal modo se comporta minha mente quando o ambiente psíquico, isento de endorfina e serotonina, embarca-me quase que forçadamente numa turnê de terror e pânico dos quais não sou capaz de tentar descrevê-los.

De uma forma semelhante aos nutrientes que são filtrados e inseridos na corrente sanguínea, igualmente são as experiências que marcam-me e marcaram os capítulos e alíneas de uma vida, que apesar de curta, revela-se repleta de dores, amores, sofrimentos e prazeres, dos quais prefiro manter aqui o segredo e o sigilo das identidades envolvidas. O tempo assemelha-se a um corredor longo e que vai se estreitando a cada passo dado, bem como aqueles que encontramos nos matadouros, análoga a uma escada tosca, íngreme e inanimada que não levará à lugar algum, a não ser para um encontro final e único com a morte. E eu, totalmente à mercê e na vanguarda desta marcha obscura, já tonto pelas pancadas do destino, pelas regras impostas a mim, e pesadelos persistentes dos quais tento escapar toda noite, ponho-me a rolar sobre a calçada deliberadamente ébrio, comparável a um bêbado que exagerou na dose, e passa a viver a partir daquele instante uma tortura por horas e mais horas a fio. Na busca por ludibriar minhas emoções e afetos, finjo ser frio como uma pedra. Rígido como uma rocha. Feroz como um animal selvagem. Não sei se quero e porque quero, (o que eu realmente quero?). Nem ao menos sei dizer se posso conseguir alcançar o sonho mais sórdido que já sonhei, confrontar o medo mais forte que já senti, e saciar, talvez por engano, talvez, por acaso, o desejo mais intenso que já tive de saborear algo ou alguém. Eu sou uma metáfora ambulante.

Em qualquer momento ou lugar, sem oportunidade específica ou reunião marcada numa agenda quase cheia guardada no bolso interno de um paletó de grife, ou coisa semelhante a isso, sentado sozinho num canto que não importa descrever qual e como é, sinto a leveza ao mesmo tempo contrastando com o peso das responsabilidades sociais, morais e individuais carregadas sobre minhas costas, enquanto a ansiedade pesa sobre meu peito, do mesmo modo que um infarto que chega de repente sem avisar; a primeira, exercendo pressão quase súbita sobre meus músculos (pouco tonificados, convém ressaltar) e, a segunda, como uma bigorna polida e lustrada, cai sob os efeitos da gravidade sobre minha consciência já fragilizada, esmagando-a, pressionando-a contra as paredes de cada labirinto que há formado dentre as brechas existentes entre um neurônio e outro, cortando as comunicações dos hormônios de controle mental. Estou condenado à vida. Estou condenado à maioridade. Estou condenado à existência. Estou condenado, é essa a minha condição, dado que desde o meu nascimento uma especie de boçal foi-me colocado, consoante uma espécie de chip sob a pele, e um número de identificação foi gerado para que eu fosse mais um “zumbi” pagador de impostos ou, no menor dos interesses, mais uma unidade insignificante que compõe algum dado estatístico. É isso, meu psicológico revela-se fraco, cansado e indeciso frente à veracidade dos fatos. Estou condenado. Sinto que existir, às vezes é comparar o real com o sobrenatural, levando em conta o ilusório. A minha vida é, ou pelo menos já foi um dia, um modelo de comparação.

Sou eu, apenas eu. Sentindo o gosto amargo desta sociedade multifacetada. Eu, contra um exército enfurecido que está lá fora cobrando-me de um a tudo: uma especialização rápida e precisa, um diploma assinado por algum engravatado importante e, não obstante, por essa razão diversas vezes sinto que o papel sobrepõe a técnica, mas, esta é nada sem o raciocínio. Sinto-me como peça única do xadrez, manipulada por todos os lados. Uma profissão. Uma ocupação. Um trabalho. Exigem de mim uma posição “filosófica” e ideológica clichê, elaborada e transmitida de forma televisiva e manipulada, estrategicamente traçada, uma armadilha prévia adicionada. Todos estes truques parecem invisíveis, entretanto, eles são, porque eles lhe “cegam” primeiro para lhe “guiar” depois. Abrir os olhos destes tipos de “cego” pode ser uma missão dificílima, a tramoia é feita de um modo bem elaborado e parece que não deixa falhas para a ação de antídotos. Uma visão limitada, com olhos frios, imunes de discernição, um espectro vago e pouco discursivo que não gere atritos ou problemas entre os grupos, que não desestruture as camadas desta cebola apodrecida ou ainda, algum posicionamento fora do habitual que desagrade o “chefe”. Não acenda as lâmpadas! As ideias estão caídas ao chão, não cate-as seu rebelde! Estas são as regras desta jaula social atual, e parece não haver acordo quando o assunto é revogação. Estarei condenado à guilhotina, talvez à fogueira, não sei qual me proporcionará uma morte mais “digna”, o que sei é que serei taxado de maluco ou alguma espécie de agitador, se acaso eu não seguir o padrão que foi instaurado. Quieto e calado é a condição que me cabe. Certamente, não vou, ainda que não poucas vezes, sinto-me um animal perseguido, encurralado e sem saída, que se sente estrangeiro em seu próprio habitat, com a falsa ideia de liberdade, todavia, seguindo só por um caminho guiado por alguém ou uma força invisível por meio de um cabresto. Essa é a forma moderna de coagir, sem ser percebido. Sinto o cheiro de medo. A sensação de desfalecimento. O hálito gelado da privacidade invadida. A vida soa como uma sinestésica experiência inigualável.

Sinto assim, que a vida imita a arte, definitivamente! Sendo que tudo é possível, coisa nenhuma é banal e nem tampouco absurdo, tudo é normal como num desenho animado, ou numa dramatização teatral. O problema é que na vida, diferentemente do espetáculo artístico, o pão e circo e as banalidades se retroalimentam e nunca acabam, só se consolidam no fenômeno tempo-espaço. E, à vista disso, declaro ser a minha existência uma personificação do irreal. Uma materialização física do imaginário, uma atuação tensa e melosa, um conflito, uma disputa entre o abstrato, o imaterial e o inexistente. Contudo, existe. Dentro da minha mente existe. Tudo permanece, resiste, e vive! Definitivamente, entre passos e ressaltos vou compondo um destino de cada vez, sem receita, sem manual. Eu que crio e dou a pincelada de esperança à minha história em meio à trajetória pela tela borrada em preto e branco que a vida real se revelou ser.

De um modo geral, parece-me que qualquer um que lhe possa pagar um prato de comida quando você está morrendo de forme, de certa forma pensa ter autoridade e poder sobre você, e de certa forma tem. Bem-vindo à indústria midiática! Comer as migalhas que caem dos pratos abarrotados de quem come à mesa esbanjando bons modos e etiquetas aprendidas desde criança, revelam que a desigualdade ainda existe e ainda é ignorada. O modo como lhe dão com ela e da pouca importância que atribuem à ela, é um fator que me deixa deveras apavorado. Onde está o ser humano social e evoluído impresso e descrito nas páginas dos livros, nas pesquisas cientificas e nos achados arqueológicos? A sua evolução intelectual e moral acompanhou a física e a sensorial? Repito, este é o fator que mais me assusta. De certa maneira, todos nós estamos comendo migalhas diariamente. O farelo do bolo que produzimos é o que nos resta, e para muitos isso basta! As fatias são divididas em nome da diplomacia. Esta é a translação da sociedade desenvolvida, por conseguinte, como o planeta gira em torno de si mesmo, as pessoas também parecem ter adotado e seguem à risca este mesmo comportamento, egoístas e estupidas, parecem pensar que o universo está o tempo todo girando apenas em torno delas mesmas. Sempre continuaremos enxugando gelo, se antes de agirmos socialmente, não hajamos bem, de forma justa e com ética individualmente. Minha vida é um exagero, uma hipérbole de emoções.

Sinto um certo pleonasmo nesta vida corrida, quando me passa um desejo incontornável e incontrolável de saber o que vem em seguida. Sair desta estafa, desta esfera e desta superficialidade. Perfurar o gelo. Escavar a rocha. Romper os elos. A repetição de acontecimentos aleatórios, mas, que sempre remetem às mesmas baboseiras de antes, mudando somente os meios para sempre resultar nos mesmos fins, deixam-me visivelmente atordoado, circundando a minha vivência, fazendo parecer que o universo é um ciclo redundante, chato e retroalimentar. Quem nunca desejou sair da zona de conforto e do confronto? Não há sentido algum, dado que curta como um pavio e repentina semelhante a um raio é a busca e a duração de um segundo de prazer. Como a sensação de experimentar pela primeira vez uma pedra de crack, sabendo que aqueles segundos vão lhe custar a vida inteira, e mesmo assim você vai, na maioria das vezes influenciado. É assim que agimos hoje, e é assim que agiremos amanhã! Temos sempre a tendência de caminhar cada vez mais ladeira a baixo. A neblina que se forma em meu caminho entorpece a visão antes voltada para aquele que era o ponto para o qual entusiasmado eu me dirigia. Tirou minha visão, deixando-me com um sentido a menos frente aos acontecimentos sórdidos e lamentáveis deste mundo. A vida mais uma vez me derrubou com uma rasteira. Esta, é a personificação da realidade.

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