Interminável  

Hoje, emocionei-me profundamente e por um longo momento, logo de manhãzinha ao acordar as recordações tomaram-me o controle da emoção, não sei explicar o porquê, mas, ao pegar uma fotografia antiga que estava caída no chão, veio-me à mente uma cascata de lembranças distintas de tudo que vivi até agora, da qual nem eu sabia que me recordaria um dia. Foi mesmo algo muito repentino. Um simples fato levava a outro e a outro, não tinha fim. Lembranças vinham e iam. Senti-me numa grande jaula, que me prendia ao passado. Então, preso em minhas recordações mais antigas, vêm-me também o enorme desejo de chorar, então, lágrimas dos meus olhos escorreram, uma fonte de tristeza misturada à saudade dividiram-me dando vida a novos sentimentos. Foi algo extraordinário, lembrar daqueles momentos que tive, momentos doces e amargos. Pude, assim, enxergar que cada passo que dei, revelou-me um novo ponto de vista sobre a vida, que se complicara mais e mais a cada um destes passos e dentre os diversos fins e recomeços que nela encontrei.
Nos vãos e vielas pelos quais passei, nas inúmeras estradas que percorri, tive que espremer-me e muito. Fui um grande contorcionista. Tive que ser, para conseguir passar pelas minúsculas passagens que encontrava entre eles, mesmo assim, arranhei-me e machuquei-me muito para conseguir ultrapassá-las. Cada arranhão que eu colecionava era uma lição. Para isso, só fazia persistir. Esta era minha maior sina, quase uma obsessão. Esta é, era e sempre será a razão pela qual a ideia de desistir nunca sequer passou pela minha cabeça. Cada novo desafio que superava, passos mais largos eu dava na esperança de alcançar vitórias maiores. Fui muito surrado pela vida. Houve muitos desafios. Vários deles se repetiam, às vezes inesperadamente, porém, vinham cada vez mais diferentes e complicados, eu, com minha bravura, os enfrentava, mais que tudo também me superava e conseguia, assim, ainda mais forças e motivações para superar um por um. Eles pareciam intermináveis, contudo, na vida tudo tem solução e eu sabia disso, era o meu lema, ainda mais quando lembrava-me que já havia, de certa forma, superado antes alguns dos problemas em questão, daí tirava minhas próprias conclusões e motivações, orgulhava-me de mim mesmo por ter conseguido…

Minha alegria era vasta como oceano e minha saudade tão profunda quanto. Não posso mais voltar, nem nada modificar, entretanto, através destas tais lembranças posso, por alguns instantes, neste vasto oceano mergulhar, refrescar minha mente. A saudade cessa por alguns segundos que parecem uma eternidade. Mas, quando chegam ao fim trazem à tona ainda mais saudade. Perdido em meio a tantas recordações, fico sem ar, então afogo-me. Desfaleço. As lágrimas que derramo são tão salgadas como as águas do oceano de lembranças no qual eu mergulho, de vez em quando, para lavar a saudade que há em minh’alma. No resplendor daqueles momentos, tranquilizo-me, finjo que estou lá novamente. Mantenho-me calmo e em juízo. Gosto muito daqueles bons tempos que vivi. A vida era suave como uma rosa, isto por que o perfume da paz não se misturava à densa névoa da decepção que cerca nossas vidas. Eu não sentia medo nem raiva, pois desconhecia as mágoas e o egoísmo das pessoas. Não me sentia só. A dor que, sentia era apenas quando caía ao brincar, ao escorregar ou tropeçar.
Na fotografia em preto e branco que fez-me recordar, estou eu, sorrindo e fazendo minhas peripécias, ao lado de quem eu amo. Minha família. Meus protetores, aqueles que chamo com muito orgulho de mãe e pai. Carinho? Era tudo que eu tinha, era a única coisa que eu precisava. Meu alimento, meu alento. Eu na foto, feliz, com aquele brilho no fundo dos olhos, que hoje já está ofuscado. Minhas retinas estão sujas de tanto ver injustiça e maldade.

Agora, estou olhando a fotografia e sentindo enorme saudade daquele eu, que desconhecia a maldade. Eu, com inocência e sensibilidade. Não apenas ali, mas, em todas as recordações que vieram-me visitar em pensamento. Nestes minutos preciosos, que fizeram-me viajar sem sair do lugar, que eu desejava que fossem intermináveis, mas que infelizmente não foram. Parece ser interminável, esta solidão e saudade que me assola e que me isola num vazio, imerso na saudade eterna em meu coração. Interminável é minha vontade de voltar àqueles momentos sem preço. Interminável é minha sede de revivê-los. Quero que sejam intermináveis as batidas do meu coração.

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