Uma Visão Da Realidade

Poderia começar citando aqui inúmeros trechos de histórias que ouvi e que me marcaram e prenderam minha atenção a um nível quase inimaginável… eu poderia citar milhares de autores renomados ou passagens de livros que me fascinaram e me proporcionaram uma viragem única sem precisar gastar um centavo dos meus bolsos, e nem sequer sair do lugar, me custaram apenas algumas horas que doei de bom grado e fiquei satisfeitíssimo com os resultados, aos quais faria tudo novamente, reviver aquelas aventuras fantásticas, resolver aqueles mistérios sinistros e complicados, redescobrir lugares secretos, sem me arrepender de nem um segundo que fiquei parado e de olhos pregados ali naquela leitura enriquecedora, enquanto minha mente voava o mais alto que podia, a cada frase, um suspiro, a cada vírgula, uma parada para respirar mais profundamente, recuperando o fôlego entre uma forte emoção e outra, mas, nunca perdendo a curiosidade de ir muito mais alem dos limites das páginas, numa fome insaciável, mergulhado no desejo de avançar cada abismo, cada momento, através da imaginação. Enfim, eu poderia iniciar este parágrafo de mil e uma formas diferentes, com inúmeros assuntos interessantes, (ou nem tanto) a se abordar, mas, por capricho próprio e enorme teimosia de minha parte, insisto em provar a mim mesmo que ainda existem milhões de possibilidades a serem inventadas e testadas, estilos a serem adotados, que acabo de certa forma me perdendo na própria gama de aprendizados que colecionei até aqui, e de ideias que permeiam minha mente.

Ignorando todos os sinais vermelhos que encontrei ao decorrer do percurso, saltando cada ponte quebrada, escalando monte por monte, nadando rio por rio,  cheguei até aqui e me arrisco a dizer que me sinto totalmente apto, talvez até demais, para dar pinceladas aos montes, umas premeditadas, outras nem tanto, mas, a maioria ao próprio acaso, sempre me arriscando e me expondo ao erro e ao fracasso como se não houvesse amanhã, afinal, pode não haver um amanhã, mas há um agora, e não é isso que chamam viver e aprender? Lançar-se ao acaso, se entregar sem medo das consequências, embarcar numa canoa inventada por você mesmo sem saber para onde as ondas e os ventos vão o levar, mas, com um objetivo fixo na mente: remando sempre na direção desejada. Isso é o que realmente chamamos viver. Ir à luta, provar dos gostos e desgostos mais amargos, não se entregar à toa, mas, fugir de cada investida da vida em lhe derrubar, e surpreendê-la dando-lhe o drible mais improvável, e avançando mais e mais. Esse é o caminho para se blindar contra possíveis decepções futuras: se expor e experimentar a realidade desta vida como ela é, para que assim, você aprenda como ela, as pessoas que nela vivem e as circunstâncias que a compõem, agem e irão ainda agir com relação a você! Porém, as decepções existem e são inevitáveis, e já irei falar delas…

Realmente, há uma infinidade de maneiras de se distrair e melhorar o astral, ainda que pareça impossível em algum momento brotar um sorriso de seus lábios, que afaste para lá as lágrimas e a aparência de frustração estampada em seu rosto. Qualquer data especial, qualquer filme bacana, ou ainda um game divertido qualquer que se jogue, lhe traz possibilidades mil de sair, mesmo que por breves minutos, desta realidade morta, vazia e rarefeita em que você se encontra, e que tenho certeza de que muitos se identificam com esta sensação de repúdio, e modéstia à parte, não são poucas vezes que me queixo de fazer parte desta geração onde tudo expira num prazo de tempo curtíssimo: as relações, que vira e mexe mudam, oscilam e se invertem ao amargor das circunstâncias. As opiniões, que quase não tem mais valor algum aparente, e parecem existir só para enfeitar um pouco o cenário caótico em que se encontram, e estas, quando não compradas ou financiadas a uma boa quantia tratada “carinhosamente” como “gorjeta”, sobrevivem por pouquíssimo tempo, sufocadas em meio às milhares de outras iguais (ou não) a ela, a maioria contraditória, mas, que de uma forma ou de outra, são irrelevantes e não trazem no calor de seus atos, o conforto inexplicável da verdade. Sinto e vejo também os valores, talvez estes sejam os que mais se perderam com o advento da modernidade, todos escoando não pelo ralo, mas sim, pelos dedos das mãos de quem insiste em os deixar esvair sem nem se preocupar com a importância que eles têm, sem nem pelo menos se dar conta de que aquela é a essência verdadeira de um ser humano, que é como se fosse nas rosas, o perfume delicioso que não atrai qualquer um, mas, apenas borboletas e colibris, com os mais refinados bicos e gostos, assim são as pessoas que ainda guardam algo de bom em si, indivíduos pelos quais vale realmente muito a pena lutar para se manter ao lado deles, e com eles, a qualquer custo.

Enfim, deste modo, me sinto mais vivo ao me introduzir dentro de uma obra fictícia, do que tentar me encaixar no próprio mundo real, não que irei ignorá-lo, por que afinal de contas, querendo ou não, estarei inserido nele enquanto eu viver, e por mais que seja um ambiente onde me deparo toda hora com zumbis conscientes de seus atos, analfabetos funcionais, idiotas úteis, e mais uma infinidade de seres que possuem um algo maior controlando, um a um, seus neurônios numa rede direta e sem fio conectada em tempo real, eu preciso apesar de tudo aprender a lidar com estas situações chatas e inevitáveis. Mas, o que é que posso fazer se me encontro e consigo obter maior prazer estando frente a um livro ou tela de videogame? Preciso tomar cuidado para não me decepcionar demais vivendo num mundo fictício, mas, sei diferenciar as duas coisas. Acho que preciso é apenas respirar mais ar puro de vez em quando, já que a mãe natureza pode me oferecer algum refúgio e me conceder milhares de formas diferentes de me sentir livre e completo, pode me confortar me apresentando suas obras tão bem feitas e caprichadas que conseguem arrancar brilhos, ou até mesmo lágrimas dos olhos de qualquer um que tenha o mínimo de sensibilidade que seja dentro do coração. O mundo real tem muitas coisas bacanas para oferecer e mostrar, não nego nem escondo isso em momento algum, porém, são as pessoas reais que eu tanto temo, mesmo que eu siga meu caminho sem colocar as minhas expectativas em alguém específico, ainda assim, não há como negar ou fechar os olhos se recusando a enxergar que estas pessoas sim, são verdadeiras feras enjauladas prestes a nos atacar de certo modo.

É óbvio que isto é apenas uma metáfora barata que encontrei para usar aqui, chegando ser até inadequada para a gravidade do assunto em questão, mas, o que consegui enxergar na maior porcentagem das pessoas que conheci até hoje foi isso: ingratidão total, fazendo parecer que todos haviam lhe virado as costas na vida e ela passou a julgar todos como sendo exatamente iguais, sem mudar nem a cor. Um azedume completamente ácido, me deixando a impressão de que seus dias um a um, tivessem sido apenas de fracassos e mais fracassos até o momento presente, extinguindo nela qualquer mínimo vestígio de bom humor. Uma ignorância tremenda, permitindo-me crer que elas não receberam educação alguma durante toda sua vida e formação. Havia em todas em comum, um ódio bruto, sem condições de se lapidar, seus olhos eram foscos, não brilhavam mais, assim como a esperança que para elas, não passava de apenas mais uma palavra extinta dos dicionários e sem qualquer fundamento válido dentro do mundo real, onde eu pude perceber o casulo em que muitos se auto exilaram e acabaram no fim das contas ficando aprisionados em suas próprias decepções, armando-se com elas própias, e apontando esta mesma arma para todos que a partir dali, encontrassem pela frente. Bom, para encurtar assunto e não render aqui uma enciclopédia inteira, vou me limitar a estes traços que pude notar nas pessoas que traçaram meu caminho até aqui, foi esse o resumo que pude fazer e o levantamento que consegui criar, mais uma pesquisa com teor e valores negativos para a estatística, infelizmente.

Entretanto, isso é algo particular meu, que mesmo havendo muitos que se identifiquem, ainda irão haver aqueles que encontraram um modo admirável de levar a vida ignorando estes fatos, e serem felizes apesar de tudo, método este, que ainda tenho muita vontade de descobrir e de um dia poder gozar de seus benefícios, mas, por enquanto, me limitarei à minha condição atual de um simples poeta que de certa forma carrega muito mais que apenas palavras em sua mente, e decepções em suas costas, que leva junto a si uma tristeza imensa ao ver os bons costumes se acabando com tanta naturalidade, como se ser superficial fosse algo bom que trouxesse benefícios para quem se torna, tanto para quem experimenta por teimosia própria, mergulhar em pessoas deste tipo.

Muitos dizem por aí, e com certeza você já ouviu dizer, que alguns infinitos são maiores do que outros. Eu discordo. Creio que o infinito é apenas algo desconhecido por nós, seres limitados, e seu tamanho é único, aliás, é imensurável, incalculável e incompreensível, segue para sempre, atravessa todos os limites, existências, e todas as dificuldades, não existem fronteiras para o infinito. Meio confuso não é? Eu arrisco dizer que é, já que acredito que ele não existe para nós seres humanos, simplesmente por sermos totalmente finitos em nossas próprias ações, tal como na nossa breve existência. Apesar de capazes, somos frágeis, apesar de extremamente dotados de inteligência, caímos sempre na barbárie do erro, muitas vezes reincidente. Finitos e fadados em cada ação ou reação as quais somos expostos cotidianamente, é o que somos. Este é um fato inegável, incontestável, porém, eu creio em você, e em mim também, não é por tais verdades citadas acima que vamos cruzar os braços e esperar a vida passar não é? Não, de forma alguma! Estamos aqui não estamos? Então, vamos nadar contra a corrente, caminhar contrariamente à realidade dos fatos e buscar o melhor de nós mesmo, atualizando nossa versão atual para melhor que a anterior, fazer de si mesmo um super herói da sua própria história, dentro de suas limitações fazer de cada instante infinito em sua própria finitude, buscar eternizar, por meio da memória as melhores sensações ao máximo de emoção possível.

Arrisque sua opinião, como alguém que arrisca a própria vida ao atravessar um tiroteio de olhos vendados, mas, que pensa fixamente em chegar ao outro lado, e não desiste, mesmo havendo munições pondo sua vida em risco a todo instante. Não se cale, por que você nunca descobrirá como será, se sua voz não for ouvida, ou sua tentativa registrada.