A Mancha Negra Do Preconceito

Ao completar meus quatorze anos de idade, conheci um lado da vida que até então era por mim desconhecido, senti na pele arrepio tremendo naquele momento de aflição. Fui assaltado! Na esquina nove de uma rua deserta, estava frio, em plena luz do dia me senti sem direção, perdi o chão sobre meus pés, experimentei de perto o horror desta forma de ser roubado. Sem temer nenhuma punição, o indivíduo exigiu que eu entregasse sem argumentar todas minhas opiniões, meus pensamentos e meus direitos de ser eu mesmo, meu eu lírico foi arrancando de mim com tamanha brutalidade, derramando lágrimas a minha alma forte, neste momento se tornou frágil, não houve resistência alguma de minha parte, a única coisa que pude fazer foi tentar guardar seu semblante, mas o meliante não tinha rosto, nem possuía uma aparência humana, era como um fantasma obscuro que está à solta assombrando a muitos em toda parte, não portava armas de nenhum tipo, porém, com suas ações mal intencionadas soltava pela boca coisas piores do que projéteis disparados por armas de grosso calibre.

Como eu mesmo disse, fiquei sem reação alguma diante este assalto onde tive minha identidade roubada, minha vida arrombada, meus direitos violados e minha alma ferida. O que foi arrancado de mim é arrancado diariamente de várias pessoas pelo mundo afora, algo que jamais deveria ser ao menos tocado por alguém, muito menos invadido com tanta violência, pois é delicado como uma frágil parede de vidro que pode se estilhaçar em milhões de pedaços e nunca mais ser colada: Este elemento em questão é a identidade única de qualquer ser, deve ser preservada e guardada a sete chaves e só a própria pessoa pode ter acesso aos porões do seu íntimo, isto deveria ser pelo menos algo privado, mas, infelizmente não é mais, há “hackers” por toda parte invadindo a privacidade não só no mundo virtual, mas também no real. Este assalto custou toda minha alegria, meus objetivos e minha motivação, agora procuro o delinquente invisível que está em toda parte, mas que parece difícil de ser detido, a recompensa? Meu galardão é a gratidão eterna a quem frear e destruir este inimigo não só meu, mas de todo cidadão moderno, este adversário que persegue todo aquele que não segue as tendências da besta e nem compactuam com ela e suas ações… Rogo a este marginal invisível que domina com pulsos firmes e mãos de ferro a mentalidade de milhões de alienados, peço apenas uma coisa, que me devolva o direito de ser quem eu realmente sou, devolva também minha identidade que é única, pois no mundo não há ninguém idêntico ou igual a mim, por isso sou especial, aliás, cada um é especial por ser diferente, imperfeito, desigual e de estilos distintos, não somos perfeitos, todavia ao longo de nossa vivência temos que buscar sempre melhorar através do que é certo. Por isso imploro que me devolva o direito de sorrir como eu quero a permissão de viver e recomeçar tudo do zero quando eu cair, que ao invés de me acusarem, que me deem a chance de levantar sem apontar minhas falhas e me tacharem de fracassado ou perdedor, apenas peço que me devolva tudo isso que você me roubou tentando me rotular, tentando me padronizar numa tentativa surreal exigido pela sociedade que segura teu cabresto, que mascara suas garras vendendo uma ideia de perfeição que nunca existiu e nem tão pouco existirá, ponha-se em seu lugar e me deixe viver à minha maneira, xô mídia, xô moda, vadre retro satanás! Meus quilos a mais e meu cabelo embaraçado são meus, então me deixe, me permita ter no rosto minha barba por fazer, deixe-me usar minhas roupas extravagantes, permita que eu respire por um instante e exponha minhas ideias e opiniões, respeite meus pontos de vista e me devolva o direito de viver livre para fazer escolhas sem que você me agrida ou interfira nelas querendo mudar meu jeito de ser para um modo que lhe agrade e se adapte às suas necessidades, não sou robô nem submisso a você, aceite que dói menos, aprenda a tolerar meu modo de me vestir, se afaste, não fique querendo me modelar com ferramentas forjadas a ferro e fogo pelo capitalismo moderno, devolva minha essência e minha alegria de viver, meu prazer em respirar um ar livre de poluição, que eu possa andar pelas ruas sem ter que omitir minha identidade e minha opinião, devolva-me a paz, livre de viver sob as rédeas que você impõe e liberto das algemas com as quais prendeu minhas mãos, tire esta corda sufocante do meu pescoço, me deixe livre, longe das indústrias desenfreadas, do consumismo supérfluo, distante das máquinas banhadas a óleo, a milhas de distância das lojas e dos shoppings entupidos de tecnologias novas que duram apenas um ano ou menos, pois logo vem outras tendências com novas geringonças moderníssimas que escravizam ainda mais usuários contaminadas pela modernidade 3D que cheira a circuitos elétricos, fusíveis e outras bugigangas que agem de forma programada, que apodrecem a capacidade do cérebro de se desenvolver o prendendo num mundo que não é real… Quero me ver livre disso tudo numa ilha deserta, talvez no caribe, talvez no Alabama, em qualquer lugar que ainda haja ou reste algum resquício mínimo que seja de paz e tranquilidade, mas antes peço-lhe mais uma vez: Devolva-me a minha identidade.

E que com ela você traga de volta minhas lembranças mais sinceras e lindas, meu jeito de criança guardado no baú da felicidade em algum lugar do meu córtex cerebral, quero de volta minha enorme repulsa pela vingança, minhas crenças, minha fé, meus objetos de pouco valor, minha dignidade, minha alma isenta de contaminação, devolva-me a liberdade, desate este nó, destrave este cadeado com a chave da independência e me livre desta jaula moderna que aprisiona meu eu, devolva-me o direito de ser eu mesmo sem ter que enfrentar uma multidão oposta a mim querendo me trucidar, que eu possa passar longe do preconceito, a quilômetros de distância deste manicômio escravocrata que há lá fora. Que minhas ideias possam alçar sempre voos mais altos e que meus pensamentos ganhem força e vitalidade para combater com todo mal que há por aí e assim, entre chegadas e partidas eu possa realmente enxergar no horizonte algo melhor, que eu aviste nele dias melhores onde o amor realmente existe e não haja traição nem de si mesmo e nem do próximo, onde o respeito seja primordial e vivo dentro das pessoas, que eu possa ainda em vida viver realmente o que é o amor e senti-lo de fato, que eu sinta no ar a fragrância deste elemento quase extinto que eu nunca mais me sinta sozinho nem por um momento, que eu ainda possa ver negros, pardos e brancos sentados na mesma mesa sem se julgarem nem construírem bombas atômicas para destruir ao outro, que as flores da tolerância nasçam nos jardins da diferença e que a paz seja mediadora entre os homens e o amor seja o colibri que bebe o néctar do respeito no interior de cada flor.

Um dia alguém terá que matar este leão feroz que devora almas de tantas pessoas, este touro forte dotado com seus chifres pontiagudos, os pares da discórdia que parece ser invencível maior que todos os bons princípios, este mesmo monstro que é o ladrão que me assaltou na rua deserta, o mesmo que devasta e invade a vida, a intimidade e o direito de ir e vir das pessoas tomando-as a identidade, privando-as de liberdade, este vilão é o preconceito que vem desde o berço das primeiras civilizações e se arrasta até os nossos dias atuais, sempre existiu e se estendeu por muitos anos a fio traçando fronteiras desiguais entre as pessoas da forma mais injusta e desleal possível, um golpe baixo em quem quer apenas viver a sua vida e lutar por seus ideais, o preconceito seja de gênero ou qualquer outro tipo, priva as pessoas de serem quem elas realmente são sem se preocupar, num mundo que não aceita as diferenças, estas pessoas vivem se escondendo e passando uma imagem que não é a própria delas só pra poderem viver sem serem incomodadas, alvejadas pelo racismo e pela intolerância, entendem? Muitas pessoas têm de negar a própria identidade, pois as pessoas lhe impedem de serem livres para poderem ser quem elas ralamente são. Será que já chegamos ao extremo, ou a situação ainda pode ficar pior? Aboliu-se a lei do amor, decretada foi uma guerra contra as diferenças, o mundo está mesmo em alerta. É realmente um tremendo absurdo ter que viver disfarçado para não ser menosprezado e desrespeitado por terceiros, esta é a sociedade moderna.

Que rumos tomar? Que caminhos seguir? Que medidas cabíveis aplicar? São inúmeras perguntas retóricas, porém difíceis de serem postas em prática num mundo já contaminado pela cultura da intolerância, numa sociedade que caminha para o declínio e perde cada vez mais a compostura. O preconceito infelizmente age em todas as áreas, está em todos os lugares destruindo a auto estima de muitos. Seja no quesito religião, seja no quesito racial ou qualquer outro quesito seja ele qual for lá está o preconceito infiltrado no meio a trazer confusão, roubando a paz interior de cada um…
Como explicar o fato de pessoas que buscam seguir Deus podem agredir ou fazer mal a outras pessoas que buscam pelo mesmo Deus ó por que elas fazem isso de um modo diferente com outras crenças? Como explicar este comportamento subumano, irracional e absurdo? Por que fulano e beltrano têm que seguir os mesmos conceitos que você? Jesus ensinou a amar teu próximo, orar por ele e ajudá-lo em todas as circunstancias, mas o mestre não falou nada sobre julgá-los nem muito menos alvejá-los com tanto ódio e rancor, eu não consigo compreender esta repulsa por parte de certas pessoas, não consigo mesmo, não entendo o por que desta disputa “territorial” dos líderes religiosos para alcançar cada vez mais pessoas e levá-las para suas doutrinas, sendo que para isso passem por cima dos princípios de amor e respeito, atropelando as opiniões e a história de cada um, os costumes, as tradições e até mesmo sobre a fé das pessoas, tudo é desrespeitado e todo espaço é invadido, por que isso ocorre é que eu não compreendo, as pessoas acabam fazendo tudo ao contrário do que Deus realmente nos pede, elas agridem e repreendem umas as outras de modo frio e calculista e o amor que deveria ser a base de toda convivência sendo o ápice de toda relação acaba ficando de lado e aí os desastres e episódios bárbaros acontecem mesmo. Como pode meu Deus do céu, uma humanidade gerada e modelada no mesmo útero do amor universal pode hoje em dia cometer atos repugnantes de extrema violência e desprezo destruindo aos outros e a si mesmos? Será que não entendem que somos nós mesmos que estamos decretando os fins dos tempos pondo um ponto final na história da humanidade negando nossa essência primitiva deixando que o ódio crie raízes largas e profundas em nossos corações já tomados e corrompidos pelo pecado da ganância contaminado pelo desejo de vingança? Enquanto o ego estiver no trono principal da mentalidade de cada um, a sociedade adoecerá cada vez mais, sendo vítima do câncer da intolerância, da síndrome do preconceito e da mácula da iniquidade, assim a história se consuma no ápice da destruição que é a própria mão humana que assina embaixo com letra cursiva o decreto de autodestruição.

Guerras e rumores de guerras, tanta falsidade por todos os lados, bem que nosso mestre nos alertou, Jesus a dois mil e dezesseis anos atrás já conhecia algo que nós estamos hoje em dia conhecendo de perto: O coração humano e a avareza que o habita! Ele sabia bem que o certo seria trocado pelo duvidoso, sendo assim eles esqueceram o amor e cederam lugar ao ódio, negaram a sua identidade de pureza deixando cair a mascara da honestidade deixando a mostra o verdadeiro monstro capitalista e materialista que realmente está atrás da boa aparência de cordeiro. Tanta busca por dinheiro, por acúmulo de riquezas, que o verdadeiro tesouro que uma pessoa pode possuir é esquecido, as pessoas passam a garimpar, explorar, se baterem e se matarem para adquirir riquezas obsoletas que não tem valor algum além de comprar tudo, compra tudo, mas não traz o tudo que as coisas realmente boas proporcionam, vivem assim uma vida de fantasias em que acham estar por cima da carne seca, num patamar muito superior que os demais, mas na verdade vivem apertadas, amarguradas perseguidas e também apavoradas, a paz não acompanha o acúmulo conquistado por meio da desonestidade, a paz foge do ambiente onde reina a ganância, estas pessoas constantemente se sentem só, abandonadas, pois abandonaram todos os seus bons princípios ao qual Deus nos criou. O preconceito sempre vive impermeado nestes meios…

Discriminação é algo comum de se ver hoje em dia, isto é um tremendo absurdo ao passo que vivemos num século tão avançado cheio de novas tendências e com uma infinidade de tecnologias, numa era de tanto desenvolvimento a mentalidade de muitas pessoas regride drasticamente, aí é que eu me pergunto: Será mesmo que devemos comemorar o “progresso”? Pelo que tenho notado, damos um passo enorme em uma direção e em outras parecemos andar para trás, pois tanto preconceito não combina com tempos modernos e atuais onde todos pregam respeito e exaltam a lei quando na verdade estes dois lados da moeda são falhos na maioria das vezes.

De fato, o mundo está em alerta, por todos os lados e em todos noticiários assistimos a devastação causada pelo ódio, egoísmo, ganância, avareza, preconceito e tantas outras coisas negativas que assolam o planeta e os corações frágeis e corruptíveis das pessoas que não sabem conviver em sociedade, os psicopatas livres que andam e perambulam pelas ruas e avenidas muitas vezes prontos a espalhar o caos e a tragédia por onde passam e da maneira como podem, muitas vezes não são pessoas visivelmente desequilibradas, muitos estão escondidos dentro de pessoas que menos suspeitamos, desde aquela agressão covarde motivada por intolerância até o lançamento de bombas em outras nações seja pela disputa territorial, seja por motivos políticos, esta é a natureza temperamental de muitos líderes hoje em dia.
Realmente o mundo está que um verdadeiro cenário de guerra, falta amor e onde falta amor padecem o respeito e todos os benefícios positivos deste sentimento que é a base da sobrevivência emocional de todo ser humano, o preconceito por sua vez é fruto do ego maduro, resultado da ganância gerada, tratada e cultivada dentro de quem fechou as portas do seu coração para o amor ao próximo.